Nas declarações políticas que hoje decorrem no plenário da Assembleia da República foi o BE o primeiro a intervir, através do seu líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, tendo criticado a "febre eleitoral do PS" em toda esta crise política relacionada com os professores, num debate que foi muito aceso e com trocas de acusações entre diferentes bancadas.
"Os dados da UTAO trazem uma clarificação definitiva e indispensável e demonstram como o ministro Mário Centeno montou o guião financeiro desta crise artificial completamente baseado em mentiras. Percebemos que são contas 'à la' Eurogrupo. A UTAO desmente absolutamente o Governo e Mário Centeno", afirmou.
Pedro Filipe Soares referia-se às estimativas da UTAO que foram hoje conhecidas e segundo as quais a recuperação integral do tempo de serviço de todas as carreiras especiais custaria 398 milhões de euros líquidos, pressionando as metas de Bruxelas, mas sem impedir o seu cumprimento.
"Demonstra que os valores apresentados estão inflacionados, que incluem despesas que já estavam previstas para outros fins, confundem deliberadamente entre valores líquidos e valores brutos - aquilo que o Estado recupera em impostos e contribuições não estão contabilizados na proposta de Mário Centeno - e o calendário assumido pelo Governo para o cálculo do efeito das medidas propostas nunca foi proposto por nenhum partido nesta Assembleia da República e acabou por não nem sequer ser votado nenhum calendário na comissão", enumerou.
Mas se começou por atirar ao Governo, o líder parlamentar bloquista não esqueceu a direita, acusando o "PSD de dar o dito por não dito" e de o seu presidente, Rui Rio, ter sido "completamente apanhado na sua teia de contradições" e Assunção Cristas de ficar conhecida pelo "agarrem-me que eu vou-me a ele".
"A direita não queria salvar os professores, queria aproveitar-se dos professores", condenou, perguntando se PSD e CDS "vão ficar reféns das chantagens mentirosas de Mário Centeno e do Governo" ou se "vão ser coerentes com aquilo que votaram na semana passada".
O primeiro pedido de esclarecimentos veio da bancada do PS, que, pela voz do deputado Rocha Andrade, contrariou os argumentos do Bloco e defendeu que "não tem qualquer razão quando diz que os números do Governo estão inflacionados".
De acordo com o deputado socialista, esta alteração legislativa, segundo o relatório referido, terá impactos orçamentais que não estão acautelados - o que gerou protestos da bancada bloquista - e confirma ainda o aumento da despesa.
"O senhor primeiro-ministro não criou uma crise artificial, apenas tentou impedir a Assembleia da República de uma irresponsabilidade", elogiou.
Na resposta, Pedro Filipe Soares reafirmou a sua posição e foi mais longe ao acusar Mário Centeno de uma "aldrabice", o que na sua perspetiva é confirmado pela UTAO, uma declaração que deixou Rocha Andrade exaltado.
Na semana passada, na comissão de Educação, PSD, CDS-PP, BE e PCP isolaram o PS e aprovaram o princípio de que os professores terão direito à recuperação da totalidade do tempo no período em que houve congelamento.
Perante este passo, o primeiro-ministro, António Costa, numa declaração ao país, na sexta-feira, ameaçou demitir-se caso esse diploma seja aprovado em votação final global, alegando ser "injusto" socialmente e "insustentável" do ponto de vista financeiro.
No mesmo dia, o ministro das Finanças disse que a aprovação das alterações "é uma falta de respeito pelos eleitores, pelos contribuintes, pelos portugueses", ao implicar uma despesa de 800 milhões de euros, contra os 240 milhões que estavam previstos.