"Eu fui deputado constituinte. A Constituição era a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e o Partido Socialista é o partido da liberdade. Eu estive de acordo com a direção do partido quando esta dizia que o que era da justiça era da justiça, o que era da política era da política", disse à agência Lusa António Campos.
De acordo com um dos fundadores do PS, o partido saiu do ADN da sua fundação e passou a entrar nos julgamentos populares.
"É uma atitude que eu condeno veemente porque a democracia não é suportável com julgamentos populares e o partido da liberdade não pode entrar neste tipo de PREC. Nós conhecemos os problemas da Primeira República, da ditadura, do PREC [Processo Revolucionário em Curso] após [25 de] Abril e a entrada do meu partido neste tipo de atitudes antidemocráticas preocupa", sublinhou.
António Campos disse ainda à Lusa não ter ficado surpreendido com o anúncio de José Sócrates, realçando que "compreende a atitude do antigo primeiro-ministro".
"Ele foi vítima de violações sistemáticas do estado de direito. O meu partido esteve sempre calado e agora entra no PREC dos julgamentos populares em vez de se preocuparem em pôr o estado de direito a funcionar", disse.
António Campos disse ainda que o seu partido se "comportou de uma forma que nada tem a ver com a sua fundação".
José Sócrates, 60 anos, é o principal arguido na Operação Marquês, em que está acusado de vários crimes económico-financeiros, incluindo corrupção e branqueamento de capitais.
No âmbito da investigação, esteve preso preventivamente durante 288 dias, entre novembro de 2014 e setembro de 2015.
Sócrates aderiu ao PS em 1981, e foi secretário-geral do partido entre 25 de setembro de 2004 e 06 de junho de 2011.
Em 2005, obteve a primeira maioria absoluta do PS em eleições legislativas e foi primeiro-ministro até 2011, depois de o seu Governo ter pedido ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu.
Num artigo publicado hoje, José Sócrates disse que a sua saída do PS visa acabar com um "embaraço mútuo", após críticas da direção que, na sua opinião, ultrapassam os limites do aceitável.