Ainda decorria a homilia proferida pelo secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, e já vários peregrinos estavam deitados nos seus sacos-cama, de diferentes cores e feitios, espalhados um pouco por todo o recinto.
Às 02:00, o silêncio de uma noite fria era apenas entrecortado por alguns cânticos de jovens ou conversas de grupos, que estendiam os seus sacos-cama, cobertores ou mantas nos mais variados sítios, fosse debaixo de um toldo de um café nas redondezas do Santuário ou encostados à Capelinha das Aparições.
Um grupo de 300 jovens salesianos de vários pontos do país montaram uma espécie de acampamento improvisado no recinto.
Ainda bateram a umas quantas portas para poder dormir debaixo de teto, mas não tiveram sorte, contou à agência Lusa o padre Juan Freitas, que não lamenta a falta de quarto.
"Do início até ao fim, daqui não arredamos pé", disse o sacerdote, sublinhando que o grupo tem experiência e trouxe lonas, mantas térmicas, impermeáveis, sacos-cama e guardas-chuva que são usados como resguardos.
Junto à Basílica da Santíssima Trindade, um grupo de cinco mulheres de Albergaria-a-Velha está a contar passar a noite toda em claro.
"Cantamos, rezamos e falamos umas com as outras. Há tempo para rir, para conviver e para pensar na vida", salienta Paula, de 47 anos, que não se preocupa com a falta de um café nas proximidades: "Domingo tiramos o dia para dormir".
Já Manuela, de Lisboa, sentada perto de uma árvore, diz que se apanhasse o papa Francisco pedia para abrir a Basílica da Santíssima Trindade para os peregrinos lá dormirem.
"Está muito frio aqui. Será que está mais quentinho ao pé do sítio onde se vendem as velas?", perguntou.
Sara Casqueiro já passou muitas noites no Santuário e hoje vai tentar ver se dorme um pouco, encostada à Capelinha das Aparições.
"Vamos ouvindo as rezas e pode ser que ajudem a embalar", contou a peregrina da Batalha, que faz o sacrifício para tentar ver o papa mais de perto.
Idália, alentejana a viver em Lisboa, está há mais de 30 horas sentada junto à azinheira próxima da Capelinha e assegura que não custa passar o tempo pelo Santuário à noite: come-se, fala-se, reza-se e, para ajudar a aquecer, ainda há uma garrafa de vinho do Porto.
Ao lado, Rosa, de Angola, sublinha que "cama já temos nas nossas casas".
Centola Ferraz, sentada junto às grades, também desvaloriza o desconforto de uma noite fria, que é compensado pela esperança de ver o papa Francisco mais de perto, na cerimónia de canonização dos pastorinhos Jacinta e Francisco.
E a noite, sublinha, vai ser passada em claro. "Parece que tenho aqui qualquer coisinha que não me deixa fechar os olhos".