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Autarca e sindicalista da Marinha Grande convergem sobre Mário Soares

Uma sindicalista e o presidente da Câmara da Marinha Grande, onde Mário Soares foi agredido durante uma campanha eleitoral, em 1986, convergiram hoje quanto ao papel do antigo Presidente da República na construção da democracia portuguesa.

Autarca e sindicalista da Marinha Grande convergem sobre Mário Soares
Notícias ao Minuto

22:28 - 07/01/17 por Lusa

País Óbito

Uma escaramuça ocorrida na Marinha Grande há 30 anos, quando o candidato presidencial revelava dificuldades nas sondagens, acabou por marcar uma viragem na campanha eleitoral de Mário Soares, que passou à segunda volta, com apoio da esquerda, e venceu o candidato da direita Freitas do Amaral.

Para Etelvina Rosa, coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira (STIV), o desaparecimento de Mário Soares, que morreu hoje aos 92 anos, constitui "uma perda para a democracia" portuguesa.

Em declarações à agência Lusa, Etelvina Rosa, que desde 2013 integra a Assembleia Municipal da Marinha Grande, no distrito de Leiria, eleita pela CDU, salientou que as divergências políticas "são próprias da vivência democrática".

No entanto, da parte de setores políticos à esquerda do PS, designadamente do PCP, "não havia divergências" com Mário Soares "sobre a democracia e sobre a liberdade", afirmou.

Há quase 31 anos, em 14 de janeiro de 1986, o antigo líder do PS e ex-primeiro-ministro "é agredido na Marinha Grande, durante a campanha eleitoral", quando o candidato à Presidência disputava o eleitorado de esquerda com os adversários Salgado Zenha e Maria de Lourdes Pintasilgo, refere a Fundação Mário Soares, na sua página da internet.

"Numa sessão de campanha na Marinha Grande, Mário Soares é alvo de uma agressão por parte de contramanifestantes. As imagens televisivas do incidente indignam o país e conferem um impulso decisivo à campanha de Soares", adianta.

Havia no concelho "muitas empresas com meses de salário em atraso", recordou Etelvina Rosa, frisando que o setor vidreiro local, que empregava milhares de trabalhadores, vivia nessa época "um ponto muito alto de luta", devido a "situações de fome e dificuldades de muitas famílias" da Marinha Grande.

"Há sempre alguns exageros", disse a sindicalista, procurando contextualizar o ambiente político-social em que ocorreram os insultos e a agressão a Mário Soares, a célebre bofetada de um manifestante vidreiro que passou para a história, mas que, segundo algumas versões, não chegou a concretizar-se.

Com a morte de Mário Soares, "o país ficou mais pobre", declarou à Lusa o atual presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, o socialista Paulo Vicente, que em 1986 assistiu, na praça Stephens, aos tumultos em que pelo menos um elemento da comitiva do candidato presidencial foi agredido na cabeça com um objeto contundente.

"Mário Soares deu-nos na altura uma lição de coragem. Era um líder de craveira internacional, a quem Portugal deve a implantação da liberdade e do sistema democrático", disse Paulo Vicente.

Em 1986, a sociedade na Marinha Grande era "muito crispada, o que se foi esbatendo" ao longo dos anos, referiu.

Após mandatos sucessivos com os comunistas no poder local, o PS ganhou a Câmara, perdeu de novo e volta a deter a presidência, desde as autárquicas de 2013.

A CDU e o PS firmaram um acordo de governo local que vigorou até 2015.

Mário Soares morreu hoje, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internado há 26 dias, desde 13 de dezembro.

O Governo decretou três dias de luto nacional, a partir de segunda-feira.

Soares desempenhou os mais altos cargos no país e a sua vida confunde-se com a própria história da democracia portuguesa: combateu a ditadura, foi fundador do PS e Presidente da República.

Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares foi fundador e primeiro líder do PS, e ministro dos Negócios Estrangeiros após a revolução do 25 de Abril de 1974.

Primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, foi Soares a pedir a adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e a assinar o respetivo tratado, em 1985. Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.

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