Jerónimo de Sousa, num ambiente dominado pelo cheiro a estrume, forragens e feno, foi combatendo a natural esquadra ativa e beligerante de insetos, e recordou que foram os eurodeputados da coligação Portugal à Frente (PSD/CDS-PP) e do PS que concordaram nas mexidas nas quotas leiteiras, colocando os produtores portugueses em dificuldades.
"Consideram que, para prosseguir a mesma política, garantir os seus interesses e a continuação da exploração, nada melhor que um Governo PS ou PSD, mas, em caso de necessidade, um consenso que permita prosseguir a mesma política que tem infernizado a vida aos portugueses", afirmou, referindo-se aos patrões e à transferência "dos rendimentos do trabalho para o capital mais de sete mil milhões de euros, nos últimos quatro anos".
O líder comunista referia-se a declarações do secretário geral da UGT, Carlos Silva, no sentido de uma necessidade de consenso em concertação social entre PS e coligação PàF.
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, remetera também para a concertação social a forma de reduzir 600 milhões de euros na Segurança Social, bem como a definição de um valor a partir do qual propõe um teto para as pensões, enquanto o líder socialista, António Costa, afirmou que o primeiro-ministro pretende uma revisão constitucional para cortar 600 milhões de euros no sistema de pensões, mostrando total indisponibilidade para tal.
"Os patrões têm razão, do seu ponto de vista" em garantir que o aumento da exploração continue com aqueles que "levaram, à vez, uma ofensiva contra os direitos dos trabalhadores", continuou Jerónimo de Sousa.
Já sobre vida do engenheiro agropecuário Pedro Pimenta e sua mulher, na Quinta de Cioga do Campo, Coimbra, o secretário-geral do PCP reiterou as críticas "aos do costume" (PS, PSD e CDS) "porque foram eles que acordaram essa liquidação das quotas [comunitárias de produção de leite], uma vez que têm "uma responsabilidade histórica".
"A existência de quotas garantia que, no plano do nosso mercado, houvesse um escoamento que garantia aos produtores uma margem para poderem viver. Com o fim das quotas, em que mais uma vez os três do costume [PS, PSD e CDS] estiveram juntos, começaram os problemas sérios dos produtores", disse, frisando a ação das "grandes distribuidoras" e a concorrência desleal dos "excedentes de leite dos países nórdicos".
Antes, Pedro Pimenta tinha partilhado os seus problemas com as cerca de "190 cabeças de gado", das quais "80 em ordenha", que lhe "custam cinco euros por dia cada", para uma produção de entre "2.500 e 3.000 litros diários, 80 mil litros por mês".
"Era bom a classe política apelar ao patriotismo entre a grande distribuição e a indústria", pediu o jovem agricultor, citando "exemplos disso no estrangeiro, de uma luta pelo preço justo".
O leite da Quinta da Cioga vai para o mercado a 25 ou 26 cêntimos por litro, mas custa cerca de 33 cêntimos a produzir e tem de enfrentar "os camiões de leite espanhol praticamente oferecido". Em um ano, Pedro Pimenta estima perder perto de 60 mil euros.