Abateram o cão sem uma lógica científica que o justificasse
O especialista em doenças infeciosas António Meliço-Silvestre considera que "não há lógica científica" que justifique o abate de animais domésticos como medida de prevenção contra o contágio pelo vírus do Ébola.
© Reprodução Europa Press
País Especialista
O especialista, que em 2003 assumiu a presidência da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida, considera o Ébola "uma questão muito complexa" que tem de ser enfrentada "de frente".
"Recuso-me a aceitar que o caminho passe por matar os nossos animais, pois isso traria muita amargura para a humanidade", disse à agência Lusa, afirmando desconhecer qualquer dado epidemiológico que aponte para a necessidade deste abate.
Na quarta-feira, o cão da auxiliar de enfermagem espanhola infetada com o vírus Ébola foi morto por decisão das autoridades espanholas, por alegadamente apresentar "um risco de transmissão da doença ao homem".
"Se vamos contra os nossos animais, é uma tragédia. Temos de aprofundar a questão epidemiológica antes de partir para decisões desta natureza", adiantou.
António Meliço-Silvestre ressalvou que, em ciência, "nunca existem certezas a 100 por cento", mas defendeu, por isso, que "a melhor forma de tratar de um assunto é olhando-o de frente e com dados científicos".
Para os especialistas, não são ainda conhecidos dados científicos que justifiquem esta medida adotada pelas autoridades espanholas.
O catedrático acredita que "o homem vai ganhar" esta luta contra o Ébola, lembrando outros desafios como o combate contra o vírus da sida, no qual trabalhou, e que existe "capacidade científica" para isso, principalmente agora que os Estados Unidos estão "empenhados" nesta batalha.
O abate do cão provocou manifestações de defensores da causa animal na capital espanhola e uma petição que defendia a sua colocação em quarentena, em vez da morte, a qual recolheu 374 mil assinaturas.
A dona do animal, de 44 anos, foi hospitalizada na segunda-feira depois de se ter detetado que estava infetada com o Ébola.
A auxiliar de enfermagem fazia parte da equipa médica que tratou dois missionários espanhóis infetados com o vírus e repatriados de África, que morreram, respetivamente, em 12 de agosto e 25 de setembro passados.
A febre hemorrágica Ébola já matou mais de 3.500 pessoas na África Ocidental dos 7.478 casos registados em cinco países (Serra Leoa, Guiné-Conacri, Libéria, Nigéria e Senegal), segundo o último balanço divulgado pela Organização Mundial de Saúde, com dados até a 01 de outubro, publicado na sexta-feira em Genebra.
O vírus do Ébola transmite-se por contacto direto com o sangue, líquidos ou tecidos de pessoas ou animais infetados.
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