"Se todos nos orgulhamos das nossas comunidades que se espalham pelo globo, e representam o melhor de nós nos cinco continentes, temos também de olhar para aqueles que nos escolhem como local de acolhimento", declarou.
Ireneu Barreto falava na cerimónia de comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorreu no Palácio de São Lourenço, residência oficial do Representante da República, no Funchal, na qual impôs condecorações, por delegação expressa do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a três personalidades e duas instituições de ensino.
Referindo que muitos olham para os imigrantes em Portugal "com estranheza, e não raras vezes, com receio", o juiz conselheiro, contrapôs que o "maior medo" que o povo deve ter é "o medo da ignorância, da mentira, do preconceito, da xenofobia, que são alimentados pelo populismo, que corrói a democracia tão duramente conquistada".
"Com uma história de quase nove séculos que mistura celtas, visigodos, lusitanos, fenícios, romanos, árabes, judeus, africanos e eslavos, que resultaram naquilo que é hoje a nossa identidade, devemos ter medo do outro, por muito diferente que nos pareça? Digo-vos claramente que não", afirmou.
"E se não queremos que o inverno demográfico se abata rapidamente sobre nós, não podemos dispensar os cidadãos imigrantes, hoje e no futuro, para que a nossa comunidade funcione e as nossas necessidades essenciais possam ter resposta. Portanto, sejamos hospitaleiros e solidários, como sempre fomos como povo", apelou o representante da República.
Ireneu Barreto questionou, por outro lado, "se ainda não chegou o tempo" de os emigrantes, sobretudo os que têm interesses e pagam impostos na região, "contribuírem com o seu voto na eleição para a Assembleia Legislativa" regional.
O representante realçou ainda que a Madeira vive atualmente um contexto de estabilidade política, depois das eleições regionais antecipadas de 23 de março, alertando, porém, que não é uma "condição ou garantia de sucesso governativo".
"Mas permite certamente dois benefícios democráticos: a quem governa, maior tranquilidade para executar o seu programa e, a quem elege, uma maior exigência com os nossos governantes, a quem não se compreenderão desculpas ou pretextos para a ausência de respostas", notou.
O representante da República destacou um conjunto de preocupações que tem, entre as quais "a persistência de algumas desigualdades sociais", salientando que, apesar das evoluções possibilitadas pela Autonomia, o desenvolvimento da região não foi suficiente para que todos "atinjam as condições de vida condignas que merecem e que o crescimento económico deveria permitir".
Ireneu Barreto alertou igualmente para as estatísticas do crime de violência doméstica que colocam a Madeira "ano, após ano, no topo" e defendeu que, apesar de a responsabilidade ser sobretudo dos cidadãos, "as autoridades públicas poderão fazer um maior esforço para prevenir e reprimir este drama, intensificando o apoio às vítimas deste flagelo".
"Partilho também convosco outro tema que considero essencial: a necessidade de valorização da participação das mulheres na política", disse, acrescentando que "o facto de recentemente se ter consagrado a paridade dos candidatos a deputados regionais vai ser mais um instrumento útil para alcançar esse objetivo".
Na cerimónia do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Ireneu Barreto impôs condecorações ao geógrafo e botânico Raimundo Quintal, o antigo diretor regional das Florestas Paulo Rocha da Silva e a presidente a instituição Causa Social, Maria Martins Góis Ferreira, uma pessoa com larga experiência na área social, com o grau de Comendador da Ordem de Mérito.
O Externato da Apresentação de Maria, a primeira unidade escolar católica que é condecorada na Madeira, e a Escola Secundária de Francisco Franco, no Funchal, foram agraciadas com o título de Membro Honorário da Ordem da Instrução Pública.
Leia Também: Lídia Jorge alerta contra loucos no poder e "fúria revisionista"