O ataque aos atores da peça 'Amor é um fogo que arde sem se ver', à porta do teatro A Barraca, em Lisboa, na terça-feira à noite, terá sido feito pelo grupo neonazi Blood & Honour, que foi 'apagado' da versão final do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI).
Esta informação é avançada pelo semanário Expresso, que teve acesso a imagens de pelo menos dois elementos deste grupo captadas após as agressões.
No ataque de terça-feira à noite, uma das três vítimas, o ator Adérito Lopes, teve de ser assistido no hospital devido à gravidade dos ferimentos. Entretanto já está em casa, mas os rasgões com que ficou na cara obrigaram a levar pontos no rosto.
Em abril, o diretor da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves, explicou que a versão do RASI com dados sobre extremismos foi apenas "base de trabalho". No entanto, o Expresso sabe que o documento, com dados do ano passado, mencionava a presença de um ramo dos Blood & Honour, considerado "terrorista" em alguns países.
Nessa versão, referia-se que o grupo organiza eventos internacionais, como concertos, por exemplo, que são, no fundo, "locais de radicalização, recrutamento e financiamento das suas atividades, incluindo a produção de propaganda".
Além disso, alertava para a falta de uma posição comum por parte dos países da União Europeia para este tipo de organizações violentas, dando-lhes espaço para que avancem com os eventos e atividades que defendem e planeiam.
Em Portugal, o ramo dos Blood & Honour identificado pelo RASI costuma organizar concertos. A presença no país já foi até referida em relatórios da Europol.
Quando surgiu a polémica sobre a versão 'apagada' do RASI, no início de abril, o Sistema de Segurança Interna (SSI) admitiu que existiu uma "versão de trabalho" que incluía informação sobre organizações extremistas, diferente da "versão oficial" apresentada na reunião, e esclareceu que a versão publicada no site do Governo correspondia à versão apresentada na reunião do Conselho Superior de Segurança Interna e à versão enviada aos deputados do Parlamento.
Algumas semanas depois, já no final desse mês, o diretor nacional da PJ, ladeado pela ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, acrescentou que, "relativamente ao que se passa em reuniões e às decisões que são tomadas, há que respeitar e há, de facto, uma questão de sigilo".
As páginas 'apagadas' correspondiam à 35 a 39 de uma versão anterior de relatório, referentes ao capítulo "extremismos e ameaças híbridas" e alertavam para a existência em Portugal, sem especificar qual, de uma representação de uma organização extremista internacional, classificada em vários países como terrorista.
Habitualmente, o RASI é apresentado depois da reunião do Conselho Superior de Segurança Interna pelo secretário-geral do SSI, juntamente com os ministros da Administração Interna e da Justiça, o que não aconteceu este ano.
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