O Governo condenou, esta quarta-feira, um ataque do exército israelita em Jenin, na Cisjordânia ocupada, contra uma delegação de embaixadores, entre os quais um português, e assegurou que "tomará as medidas diplomáticas adequadas".
"Portugal condena liminarmente o ataque do exército israelita à comitiva diplomática no campo de refugiados de Jenin, Cisjordânia", lê-se numa nota divulgada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros na rede X (antigo Twitter).
"O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, transmitiu toda a solidariedade ao Embaixador português que integrava a comitiva e tomará as medidas diplomáticas adequadas", acrescenta.
De notar que o Ministério dos Negócios Estrangeiros português já tinha confirmado à Lusa o sucedido e adiantou que na delegação de diplomatas estava o chefe de missão diplomática em Ramallah, Frederico Nascimento, que se encontra a salvo.
Portugal condena liminarmente o ataque do exército israelita à comitiva diplomática no campo de refugiados de Jenin, Cisjordânia. O MNE @PauloRangel_pt transmitiu toda a solidariedade ao Embaixador português que integrava a comitiva e tomará as medidas diplomáticas adequadas.
— Negócios Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) May 21, 2025
Israel "lamenta incómodo" causado
Já Israel admitiu que foram disparados tiros de aviso após um grupo internacional de mais de 20 diplomatas se ter "desviado da rota aprovada" na visita a Jenin e "lamentou o incómodo" causado pelos disparos.
"A delegação desviou-se do itinerário aprovado e entrou numa zona onde não estava autorizada a estar", declarou o exército israelita em comunicado, sublinhando que os soldados do exército que operavam na zona dispararam tiros de aviso para os afastar.
O exército israelita anunciou ainda que irá dialogar com os diplomatas "em breve".
Por sua vez, a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Kaja Kallas, exortou Israel a investigar os disparos.
A notícia do ataque, note-se, foi avançada pela agência noticiosa palestiniana, que adiantou que ninguém ficou ferido.
A WAFA, que cita o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana (AP), partilhou imagens dos ataques, que tiveram como objetivo "intimidar", nas quais se veem pelo menos dois israelitas fardados a disparar na direção de um grupo de pessoas que estava a dar entrevistas.
A agência palestiniana referiu que figuravam na delegação representantes da União Europeia (UE), Áustria, Bulgária, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Itália, Lituânia, Polónia, Reino Unido, Roménia, Rússia, Turquia, China, Canadá, México, Índia, Japão, Sri Lanka, Egito, Jordânia e Marrocos, bem como um número indeterminado de diplomatas de outros países.
Segundo a Autoridade Palestiniana, o grupo de diplomatas que foi alvo de disparos quando visitava Jenin encontrava-se em missão oficial para observar a situação humanitária na cidade da Cisjordânia ocupada por Israel quando se ouviram tiros.
Um trabalhador humanitário, citado pela agência noticiosa Associated Press (AP) e que não quis ser identificado por receio de represálias, disse que uma delegação de cerca de 20 diplomatas estava a ser informada sobre a situação em Jenin pela Autoridade Palestiniana.
O grupo de diplomatas regionais, europeus, asiáticos, africanos e ocidentais estava junto à entrada do campo de refugiados de Jenin quando ouviram tiros pouco antes das 14h00 locais (12:00 em Lisboa), embora não se saiba de onde vieram os tiros, disse.
O jornal The Times of Israel, na sua edição 'online', confirmou que tropas israelitas dispararam tiros de advertência para o ar quando diplomatas estrangeiros visitam Jenin, na Cisjordânia, sem que se tenham registado feridos.
Vídeos do incidente publicados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana mostram dezenas de pessoas, incluindo fotógrafos, perto de um posto de controlo do exército em Jenin.
Os soldados são vistos a disparar para o ar e a rasar o campo de refugiados palestinianos de Jenin. Imediatamente depois, o grupo de diplomatas foge de volta para os carros. Não há relatos de feridos, frisa o The Times of Israel.
Num comunicado de imprensa, o ministério palestiniano condenou "com a maior veemência possível o crime odioso cometido pelas forças de ocupação israelitas, que consistiu em atingir diretamente com munições reais uma delegação diplomática acreditada junto do Estado da Palestina" em "visita de estudo à província de Jenin", que constitui "uma violação flagrante e grave do direito internacional".
O incidente ocorre num contexto de aumento da pressão internacional sobre Israel devido à condução da guerra contra o movimento islamita palestiniano Hamas em Gaza, em que muitos países denunciam a intensificação e a expansão da campanha militar e o sofrimento dos civis, a quem falta tudo.
[Notícia atualizada às 14h39]
Leia Também: Português entre delegação de diplomatas atacada por Israel em Jenin