Afinal, Covid-19 pode ter chegado a Portugal mais cedo. Mortes dão pistas

Os dois períodos de excesso de mortalidade mais elevados por causa mal-definida ou desconhecida ocorreram em março de 2020 e em janeiro-fevereiro de 2021.

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Notícias ao Minuto com Lusa
06/12/2024 08:46 ‧ 06/12/2024 por Notícias ao Minuto com Lusa

País

Covid-19

O vírus SARS-CoV-2 poderá ter chegado a Portugal antes de março de 2020, quando foi identificado o primeiro caso. É que, nesse mês, ocorreu um pico de mortalidade por causas desconhecidas. Além disso, a Covid-19 provocou, nos primeiros dois anos da pandemia, mais 19.119 mortes do que era esperado para o mesmo período, sendo que o excesso de mortalidade afetou sobretudo os mais velhos e doentes crónicos.

 

"As primeiras manifestações que acontecem, e foi assim que a pandemia, por exemplo, em Wuhan [China] foi descoberta, aparecem um conjunto de casos de doenças que não conseguem ser explicadas", disse à Lusa Ana Paula Rodrigues, a investigadora que coordenou o estudo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), pedido pela antiga ministra da Saúde, Marta Temido.

O trabalho revelou que os dois períodos de excesso de mortalidade mais elevados por causa mal-definida ou desconhecida ocorreram em março de 2020 e em janeiro-fevereiro de 2021. Ainda assim, no primeiro caso, que registou uma menor intensidade, os investigadores admitiram que a menor capacidade de testagem e a escassez de recursos poderá ter sido responsável.

"O facto de o aumento desta causa de morte ter tido início antes da primeira morte por Covid-19 no país pode ser um indício de uma circulação prévia de SARS-CoV-2 que não foi possível identificar", apontou a investigação.

O segundo maior excesso de mortalidade por esta causa, por seu turno, coincidiu com o período durante o qual os serviços e profissionais de saúde estavam sob elevada pressão na resposta à Covid-19. Por isso, é plausível haver "uma menor capacidade de diagnóstico e esclarecimento de todas as mortes".

O estudo sobre o impacto direto e indireto da pandemia na mortalidade em Portugal, entre março de 2020 e 31 de dezembro de 2021, indicou que as causas de morte mal-definidas ou desconhecidas foram a segunda causa de morte diretamente mais afetada pela Covid-19 nos dois primeiros anos da pandemia, sugerindo que, no futuro, qualquer aumento inesperado nesta fatia funcione como um "sinal de alerta precoce".

Mais de 20 mil mortes em excesso, 90% por causa da Covid

Além disso, o trabalho estimou que entre março de 2020 e 31 de dezembro de 2021 tenham ocorrido 21.243 óbitos em excesso, 90% dos quais (19.119) atribuíveis à Covid-19. O maior impacto verificou-se nos grupos etários mais idosos e nas pessoas com doenças crónicas, o que "reforça a necessidade de dar prioridade a estes grupos populacionais na preparação e resposta a futuras pandemias, quer na proteção em relação à infeção e suas complicações, quer na prevenção e mitigação dos efeitos secundários das medidas não farmacológicas".

Ana Paula Rodrigues lembrou que, na vacinação, os mais idosos e doentes crónicos foram priorizados, mas ressalvou que, no futuro, Portugal "tem de ter a capacidade de identificar outras medidas, dentro das não farmacológicas, que protejam especificamente estes grupos etários".

"Ainda por cima alguns estão institucionalizados e a institucionalização em si é um fator acrescido para doenças infecciosas, pela proximidade das pessoas", constatou a especialista, lembrando também que, os que não estão em instituições, "estão muito isolados".

"Temos que olhar para todo este contexto social e, além das medidas específicas de proteção, numa próxima pandemia, desenvolver outras medidas sociais e no âmbito da saúde para os proteger também de outros efeitos, não os colocando em risco de agravamento de outras patologias que já tenham", salientou.

Os investigadores equacionaram ainda que as mudanças nas condições económicas e sociais decorrentes da concretização das medidas não farmacológicas, além da reorganização dos serviços de saúde, "podem ter contribuído para o aumento indireto de algumas causas de mortes durante a pandemia", seja devido a atrasos ou evicção de cuidados médicos, ao aumento do consumo de substâncias ilícitas e ideação suicida, ou até o aumento na violência interpessoal.

Recorde-se que o primeiro caso confirmado de Covid-19 em Portugal foi notificado no dia 4 de março de 2020. Já o primeiro óbito foi registado a 16 de março.

Até 31 de dezembro de 2021 - final do intervalo do estudo do INSA - foram notificados 1.408.420 casos confirmados de infeção por SARS-CoV-2 e 18.977 óbitos por Covid-19.

Entre março de 2020 e o final de 2021, ocorreram quatro ondas pandémicas, a mais grave das quais entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021, com um número máximo de 296 óbitos no dia 27 de janeiro de 2021.

A vacinação à doença teve início a 27 de dezembro de 2020.

Leia Também: LVT: A região com mais óbitos em excesso nos primeiros 2 anos da pandemia

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