O primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou, esta terça-feira, não perceber "muito bem" as críticas sobre ainda não ter visitado os bairros onde se registaram tumultos após a morte de Odair Moniz, recusando "dificuldades em andar no terreno".
"O Governo, perante aquela circunstância, fez aquilo que lhe competia. Para além de todo o contacto com os demais órgãos de soberania, falou com as autarquias locais e falou com as comunidades dos bairros onde ocorreram fenómenos violentos”, explicou, em declarações aos jornalistas, durante a apresentação e tomada de posse do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
"Com franqueza, não sou daqueles políticos - peço desculpa se for um defeito - que, perante um problema, vão a correr apresentar um plano. O plano está em execução desde o primeiro dia de Governo", afirmou, referindo-se a medidas na área da educação ou saúde públicas, na habitação e ao encontro que membros do executivo já tiveram com diversas associações de representantes desses bairros.
Sobre uma eventual visita ao terreno, esclareceu: "Eu neste momento não tenho essa visita prevista, nem sinto que haja nenhuma questão com isso. Eu vou repetir outra vez: eu não sou daqueles políticos que perante um problema vai a correr engendrar um plano".
Montenegro disse ter sido informado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de que iria fazer uma visita a alguns desses bairros.
"Eu tive ocasião de lhe dizer que achava muito bem que ele o fizesse, não há mais questão", afirmou, dizendo também não ver qualquer problema na deslocação de Pedro Nuno Santos.
E acrescentou: "Eu ainda há um ano estive na Cova da Moura a comer uma cachupa com um cidadão, não é diferente, o contexto é exatamente o mesmo, há um ano atrás já havia problemas sociais, há um ano atrás já havia conflitualidade entre forças de segurança e cidadãos dos bairros", considerou.
Montenegro defendeu que o plano do Governo para Portugal já "integra as pessoas que vivem em situações mais precárias do ponto de vista da habitação e que tenham mais dificuldade no seu dia-a-dia para arranjar um emprego, para pôr os seus filhos na escola, para poder ter um atendimento num serviço de saúde".
"Nós estamos a trabalhar nisso e vamos continuar a trabalhar, com certeza que também estamos a trabalhar com as pessoas que vivem nestes bairros e que expressaram a sua indignação recentemente. Por isso falámos com elas, por isso falámos com os representantes das respetivas associações e vamos continuar a falar, só que não acho com franqueza que ajude ao debate que tenhamos que ir à pressa fazer um plano só porque houve um problema", reiterou.
O primeiro-ministro insistiu que o Governo irá apostar no reforço do "policiamento nas ruas" e de "equipas multidisciplinares que possam ter capacidade de prevenção e repressão de fenómenos criminais mais violentos".
"Eu já o tinha dito antes de isto ter acontecido, e portanto vamos continuar esse caminho, vamos continuar o caminho de dar a todos os cidadãos serviços públicos eficientes, capacidade de mobilidade, melhores empregos, melhores salários, melhores habitações, para que todos tenham uma vida digna", prometeu.
O primeiro-ministro reforçou ainda a ideia de que é preciso garantir que os fenómenos de violência que se seguiram à morte de Odair Moniz "não se repetem, porque retiraram tranquilidade às pessoas que vivem naqueles bairros, retiraram a ordem pública de uma forma geral aos cidadãos das zonas adjacentes".
"Eu não estou com isto a diminuir aquilo que aconteceu, o que eu estou com isto a dizer aos portugueses é que nós não passámos a ser um país inseguro. Nós somos um país seguro", vincou.
O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, criticou, na segunda-feira, Luís Montenegro por ainda não ter ido aos bairros na periferia de Lisboa onde nas últimas semanas houve desacatos.
Relativamente ao direito à greve pelos polícias, o primeiro-ministro respondeu que mantém a confiança na ministra da Administração Interna.
"Aquilo que tinha de ser clarificado relativamente à posição do Governo sobre a admissibilidade de haver direito à greve nas forças de segurança já foi dito e foi muito bem dito pelo ministério da Administração Interna", reitera Luís Montenegro.
Margarida Blasco admitiu debater o direito à greve nas polícias. No entanto, pouco depois, o MAI, a sua tutela, desmentiu essa possibilidade.
[Notícia atualizada às 19h36]
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