A obra de Bordalo II 'Cagarro', instalada em 2021 numa das paredes do Gimnodesportivo da ilha do Corvo, nos Açores, foi danificada por funcionários da Direção Regional das Obras Públicas, que faziam pinturas de manutenção no edifício.

A situação foi denunciada pela SPEA - Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves nas redes sociais.

"Lamentamos que uma obra de arte, símbolo de todo o trabalho e esforço da população da ilha do Corvo em prol da conservação de aves marinhas tenha sido desvalorizada. Da autoria do artista Bordalo II, esta obra encontra-se instalada na ilha do Corvo, desde 2021, altura da sua criação no âmbito do Oceanlit Project e em parceria com o Governo dos Açores e a Câmara Municipal do Corvo", lê-se na publicação.

Na mesma partilha, a SPEA, uma das responsáveis pela promoção da obra há cerca de três anos, revela que já contactou "as entidades competentes demonstrando a sua insatisfação" e solicitando a resolução desta situação que aguarda "que seja resolvida o mais brevemente possível".

"Esta obra simboliza todo o trabalho realizado na conservação das aves marinhas, sendo que valoriza património natural e cultural da ilha do Corvo mas também da Região Autónoma dos Açores que sai assim empobrecida", realça ainda a SPEA.

Nas imagens partilhadas nas redes sociais é possível ver as alterações feitas à obra. Toda a parede que tinha a ave como base foi pintada de branco, tapando parte da obra de Bordalo II.

Testemunhas asseguraram ao Notícias ao Minuto que os funcionários das Obras Públicas pensaram que a pintura da parede estava deteriorada e que esta parte não fazia parte da obra.

Ao Notícias ao Minuto fonte do Governo dos Açores confirmou que os danos foram feitos de uma forma "não intencional" e lamentou o sucedido.

Perante o incidente, o Executivo açoriano promete "convidar" o artista a regressar à ilha para "idealizar uma nova versão" do 'Cagarro', uma vez que continua a ver a "conservação das aves marinhas como uma prioridade".

Já Bordalo II, segundo a RTP Açores, não quis comentar o caso.

Feito a partir de lixo, como é já marca do ativista português, o 'Cagarro' pretendia não só homenagear o empenho dos corvinos em proteger esta e outras aves marinhas como sensibilizar para o impacto do lixo marinho nas aves.

A iniciativa da SPEA e da Câmara Municipal do Corvo foi cofinanciada pela Direção Regional de Turismo e com o apoio da EDA.

Além do 'Cagarro', Bordalo II também fez um 'Mero' no Corvo

Além do 'Cagarro', Bordalo II tem mais uma obra no Corvo. No verão do ano passado, o artista viajou novamente até à ilha mais pequena dos Açores para fazer mais uma vez arte com lixo, enquanto homenageia a comunidade.

Desta vez, em julho de 2023, o ativista fez um mero, um peixe muito acarinhado pelos açorianos e mergulhadores que visitam a região, essencialmente, a ilha do Corvo.

Há alguns anos, depois de várias pessoas terem chamado a atenção para as características afáveis e curiosas desta espécie, a população decidiu, voluntariamente, criar uma reserva marinha destes animais para que quem visitasse a ilha os pudesse conhecer e admirar.

Assim, a cerca de 100 metros do Corvo, com dimensões de cerca de um metro de comprimento, quem mergulha no agora conhecido por 'Caneiro dos Meros', onde é proibido pescar, pode avistar e até interagir com cinco ou mais meros no espaço de poucos minutos.

Sendo esta uma área protegida, além destes peixes, os mergulhadores podem também usufruir de uma viagem pela mais autêntica e genuína flora marítima dos Açores.

O mero de Bordalo II está patente num barco 'atracado' na área da Reserva Biológica do Corvo.

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