Partindo da convicção de que "a psicologia é uma prática que se baseia na autonomia dos seus profissionais", Miguel Ricou, autor de "A Ética e a Deontologia no Exercício da Psicologia", decidiu avançar com a publicação de uma obra que fala de "um conjunto sólido de princípios éticos-aspiracionais, identitários da psicologia".
"O psicólogo tem de tomar decisões no aqui e agora. Este livro pode ajudar o psicólogo a perceber como tomar decisões e a confiar nelas", disse, à Lusa, o autor que é também presidente do conselho jurisdicional da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Com esta obra pretende-se, confidenciou Ricou, "ocupar um espaço que não existia na psicologia em Portugal", através da reflexão à volta dos "principais dilemas éticos da psicologia" e dando "respostas fundamentadas à volta do raciocínio ético".
"Os psicólogos estão organizados como profissão há relativamente pouco tempo. Este livro pode ser um complemento à própria compreensão do Código Deontológico da Ordem para ajudar o público em geral, os profissionais e estudantes de psicologia a compreender melhor a forma de promover o raciocínio de Ética", disse Miguel Ricou.
Nascendo de uma Ordem que foi constituída em Portugal em 2010 e refletindo sobre um Código que data de 2011, "A Ética e a Deontologia no Exercício da Psicologia" fala de uma profissão que para muitos é "nova", ainda que conte, na realidade, com décadas de existência.
"A psicologia em Portugal existe há 20/30 anos mas em termos de regulação tem cerca de quatro anos. Houve um 'boom' grande de formação. É evidente que às vezes há algumas dissonâncias e algumas discordâncias sobre qual é o papel do psicólogo. E uma das minhas grandes preocupações hoje em dia quando penso na psicologia, seja numa área clínica, seja na área organizacional ou de educação, é promover uma identidade na psicologia", descreveu o autor.
Miguel Ricou, que é também professor auxiliar na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), integrando o Departamento de Ciências Sociais e da Saúde, reconhece que hoje se "fala-se muito em psicologia", mas "muitas pessoas não sabem muito bem o que fazem os psicólogos", aproveitando para vincar que "a identidade fundamental da psicologia é promover o autoconhecimento das pessoas".
"O psicólogo ajuda as pessoas a conhecerem-se melhor a si próprias, porque parte-se do princípio de que quanto melhor se conhecem, melhores decisões poderão tomar para as suas vidas", referiu.
A instrumentalização das crianças em situações de disputa parental, ainda que "não seja dos casos mais frequentes da psicologia", mas por motivar as pessoas a fazer "queixas à Ordem por serem situações sensíveis", é um dos dilemas desta especialidade discutidos na obra.
Com prefácio do bastonário da Ordem, Telmo Baptista, e posfácio do psicólogo, psicoterapeuta e psicanalista Eduardo Sá, a apresentação do "A Ética e a Deontologia no Exercício da Psicologia" está agendada para quinta-feira, pelas 18:30, na FMUP.