"Vende-se todo o ano esse artigo, mesmo para oferecer, das pequenas, em batizados e comunhões. Isso não é algo que seja só pelo Espírito Santo", afirmou à Lusa Susana Cordeiro, funcionária de uma ourivesaria em Ponta Delgada, acrescentando que tanto se vendem "a residentes como emigrantes açorianos".
Até 13 de julho estão previstos acontecerem em Ponta Delgada 25 eventos religiosos, culturais e sociais, entre eles a distribuição de 14 mil refeições e o desfile de cerca de cem coroas e bandeiras, no âmbito das XI Festas do Divino Espírito Santo, que são organizadas pela Câmara Municipal.
A coroa e o cetro em prata, conjuntamente com a bandeira, são símbolos do culto do Divino Espírito Santo, que nos Açores remonta aos primórdios do povoamento e constitui um dos maiores testemunhos de fé do povo açoriano.
Numa das ourivesarias mais antigas da cidade as coroas também são um dos objetos mais procurados ao longo de todo o ano, sendo que "as mais pequenas medem 10 centímetros de altura e as maiores e mais caras podem atingir meio metro".
"A mais barata está à volta dos 100 euros e a mais cara pode chegar aos mil ou dois mil euros", afirmou à Lusa António Ferreira, proprietário da ourivesaria, que costuma comprar as coroas no norte do país, já que "nos Açores não há tradição de fabrico deste tipo de peças".
António Ferreira adiantou que entre os seus clientes há pessoas de várias idades e condições sociais, sendo que a crise e a falta de liquidez das famílias "não diminuiu" a procura por coroas em prata do Espírito Santo.
"Há uma grande devoção pelo Espírito Santo nos Açores", sustentou o comerciante.
As celebrações do Espírito Santo nos Açores iniciam-se após a Páscoa e prolongam-se até ao oitavo domingo seguinte, o da Trindade, mas chegam a decorrer até ao verão, por causa do regresso de muitos emigrantes, e constituem um dos festejos com maior expressão no arquipélago.
Revelando que só este mês de julho já vendeu várias coroas, sem precisar quantas em concreto, Susana Cordeiro disse que "também há muitas pessoas que recorrem às ourivesarias para pequenos restauros ou limpeza das coroas que já têm".
As tradicionais coroas podem ter quatro, cinco ou seis hastes, com o aro em relevo. No cimo, uma pomba de asas abertas pousada sobre uma esfera simbolizando o globo terrestre.
Também em prata é feita a salva (prato liso e pé alargado para suportar a coroa) e o cetro, uma pequena vara com cerca de 35 a 40 centímetros com a pomba colocada na extremidade mais delgada.
Entre as coroas mais antigas existentes no arquipélago está uma do século XVII da Irmandade do Espírito Santo da Nossa Senhora dos Anjos, na ilha de Santa Maria.
