"Reduzir a ciclovia da Avenida de Berna a um quarteirão para ter 70 lugares de estacionamento automóvel representa um gasto de erário público de 62 mil euros e mais um passo no caminho do retrocesso para Lisboa", criticou a Quercus, em comunicado.
A ciclovia da Avenida de Berna, em Lisboa, vai passar a ser bidirecional, em vez de ter uma via de cada lado, afirmou na quarta-feira o vice-presidente da câmara, assegurando que "a remoção da ciclovia não está em causa".
Com o pelouro da Mobilidade, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP) disse que "o que está a ser preconizado é um repensar da ciclovia" da Avenida de Berna, para que "passe a ser bidirecional", defendendo que é "uma solução de equilíbrio e não de radicalização".
Esse esclarecimento foi prestado na reunião pública do executivo municipal, na quarta-feira, em resposta a questões do vereador do PS Pedro Anastácio, que apresentou uma moção relativa à ciclovia da Avenida de Berna, criticando o início de obras de alteração nesta infraestrutura sem que antes seja conhecida a auditoria à rede ciclável de Lisboa.
O socialista concordou com a necessidade de melhorar a infraestrutura ciclável existente, mas rejeitou uma solução provisória, defendendo que é necessário melhorar o espaço público, criar uma ciclovia segura e reduzir a velocidade na Avenida de Berna.
"Que a intervenção iniciada no dia 16 de outubro seja o ponto de partida para a requalificação da ciclovia da Avenida de Berna existente e não para a sua destruição", lê-se na moção do PS, aprovada com os votos contra da liderança PSD/CDS-PP, que governa sem maioria absoluta, e os votos a favor dos restantes, designadamente de PS, PCP, BE, Livre e vereadores independentes eleitos pela coligação PS/Livre.
Hoje, o Núcleo Regional de Lisboa da Quercus defendeu que a opção de retirar ciclovias para colocar mais estacionamento automóvel, em contraciclo com todas as recomendações e escolhas europeias, "é o caminho do retrocesso para Lisboa".
"O resultado desta empreitada já iniciada vai implicar várias infrações, no que diz respeito à largura da via BUS e constrangimentos aos cidadãos, principalmente estudantes, deixando de existir ciclovia à porta de uns dos pólos principais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), da Universidade Nova", expôs a Quercus.
De acordo com esta associação, as obras estão divididas em duas fases, estando a primeira já a ser iniciada com a "destruição das faixas cicláveis" e a segunda prevê uma intervenção no valor estimado de 450 mil euros.
Preocupada com "este retrocesso na mobilidade urbana de Lisboa", a Quercus indicou que, em 2021, sob a presidência do PS, a Câmara de Lisboa implementou uma ciclovia na Avenida de Berna, removendo cerca de 100 lugares de estacionamento existentes à superfície e criando um corredor BUS naquele eixo, prolongando o corredor que vinha de Alcântara e que tinha como objetivo ser prolongado até ao Areeiro.
Para adaptar a cidade às alterações climáticas, o Núcleo Regional de Lisboa da Quercus defendeu "medidas efetivas de descarbonização, sem contrapartidas de lucro para empresas", bem como "mais corredores verdes e menos estradas, menos betão, mais espaços verdes renaturalizados e mais proximidade humana na cidade".
Na sexta-feira, as associações MUBi e Zero anunciaram que apresentaram queixa da Câmara Municipal de Lisboa ao Ministério Público por estar a remover parte da ciclovia da Avenida de Berna, visando recuperar 70 lugares de estacionamento.
A estratégia do executivo relativamente à rede ciclável da cidade, apresentada na quarta-feira pelo responsável pelo pelouro da Mobilidade, prevê alargar a rede existente (que tem executados 173,15 quilómetros), com 19 novas ciclovias, estimando-se no total mais 17 quilómetros.
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