O autor da caricatura que mostra o primeiro-ministro, António Costa, com nariz de porco, lábios pronunciados e lápis espetados nos olhos, defendeu, esta segunda-feira, que descrever a imagem como racista é "um autêntico disparate" e que o seu uso se deveu ao facto de os professores precisarem de captar a atenção do governante.
"Os comentários ou as apreciações gerem de quem as faz [ipsis verbis]. Sou um artista, sou um professor, faço o meu trabalho e entrego-o, digamos assim, nas redes [sociais] e alguém o toma. Se o senhor primeiro-ministro acha que é racista, ele lá sabe as leituras que anda a fazer", começou por referir Pedro Brito, professor e cartoonista, em declarações à RTP 3.
O incidente ocorreu no passado sábado, durante as celebrações do Dia de Portugal, no Peso da Régua. Apesar de ter considerado que "o protesto dos professores faz parte da liberdade e da democracia", o primeiro-ministro, após ter sido perseguido até um restaurante, virou-se para trás e chamou um dos manifestantes a segurar o cartaz de "racista", visivelmente exaltado. Segundo a RTP, o manifestante trata-se de Pedro Brito.
O professor convidou António Costa a participar numa das suas aulas de arte, estética e semiótica para que ambos pudessem "conversar sobre o autêntico disparate" em que o primeiro-ministro utilizou a palavra racista. "Racismo é um autêntico disparate", defendeu.
Pedro Brito assegurou que o facto de ter caracterizado António Costa como um porco "não é uma comparação". "Eu não vejo António Costa. Vejo um desenho de um porco que curiosamente está em muitas das personagens que faço ao longo destes longos anos como professor e como artista plástico. É uma interpretação de quem vê", frisou.
"É uma manifestação bastante precisa de alguém que tem qualquer coisa para dizer. E este alguém são todos os braços dos meus colegas que erguem esta mensagem e que gostariam de dizer a um homem que tem grandes responsabilidades neste país que a escola tem um grande problema", acrescentou, frisando que "os professores - que também são especialistas em comunicação - encontraram uma forma mais subtil para lhe dizer 'queremos conversar'".
Pedro Brito acusou António Costa de ter "ensaiado toda uma estratégia de desconstrução dos movimentos de rua, no sentido de desmobilizar esta luta" e referiu mesmo que o governante "já conhece esta imagem há muito tempo".
"De repente lembrou-se de criar uma conotação, uma polémica em torno de tudo isto, o que só mostra um desnorte", acusou.
Frisando que "o que está em causa é uma estratégia de comunicação" para "obter a atenção do primeiro-ministro", o professor garantiu que não irá parar "até ter atenção necessária para os problemas da escola".
Sublinhe-se que, no sábado, após as comemorações do Dia de Portugal, no Peso da Régua, António Costa foi perseguido por muitos docentes que gritavam, entre outras palavras de ordem "respeito". A mesma mensagem estava escrita nos cartazes, em alguns dos quais era também possível ler "demissão" e ver a imagem do primeiro-ministro com dois lápis nos olhos e um nariz de porco.
Nas redes sociais de Pedro Brito é possível ver, efetivamente, outros cartazes com ilustrações similares, incluindo do ministro da Educação, João Costa. Ao contrário do primeiro-ministro, porém, não foi desenhado um nariz de porco, nem foram aumentados traços fisionómicos de forma considerável.
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Uma outra ilustração de António Costa, datada de abril de 2021, altura em que Portugal se encontrava em processo de vacinação contra a Covid-19, mostra o primeiro-ministro de turbante, numa caricatura com uma alusão clara às suas raízes indianas.
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