Meteorologia

  • 08 MAIO 2024
Tempo
30º
MIN 17º MÁX 30º

Após polémica, Bispo do Porto reage: "Não fui feliz, peço desculpa"

Manuel Linda reconhece que os abusos sexuais na Igreja portuguesa são uma realidade "muito mais sombria" do que pensava.

Após polémica, Bispo do Porto reage: "Não fui feliz, peço desculpa"
Notícias ao Minuto

18:48 - 25/10/22 por Notícias ao Minuto com Lusa

País Abusos na Igreja

O bispo do Porto, Manuel Linda, quebrou o silêncio após a polémica gerada pelas suas declarações em torno da obrigatoriedade ou não das denúncias de abusos sexuais na Igreja. Além de pedir desculpa, o bispo diz que não foi "feliz" na expressão que usou e garantiu que tudo fará para "pôr cobro" aos crimes de natureza sexual.

Numa Nota Episcopal dirigida à Diocese do Porto e esta terça-feira divulgada, D. Manuel Linda começou por referir que, "nas últimas semanas", foi "objeto de várias notícias e comentários" e que isso o conduziu "a um período de silêncio, reflexão e discernimento". 

"Uma jornalista fez-me uma pergunta inesperada sobre a obrigatoriedade ou não de denúncia dos casos de abuso sexual de menores. Embora vincando bem que todos o estamos a fazer e que a nossa Diocese sempre assim procederá, na minha resposta, acabei por deixar dúvidas quanto à noção de 'crime público'", começou por admitir.

"Acredito que também muitos dos cristãos da Diocese se terão questionado e sentido incomodados com o que se seguiu na comunicação social. Pois bem: assumo que não fui feliz na expressão e que, porventura, tornei incompreensível o meu próprio pensamento. E disso peço desculpa a todos e perdão às vítimas que, possivelmente, se sentiram feridas", acrescentou. 

Sublinhe-se que a polémica em questão foi espoletada no princípio do mês, quando o bispo foi questionado sobre a "obrigatoriedade ou não de denúncia dos casos de abuso sexual de menores".

Na notícia de 03 de outubro, ainda disponível na página da CNN Portugal, Manuel Linda diz que "ainda hoje, oficialmente, o crime de abuso não é um crime público, portanto não há obrigatoriedade de denúncia".

Na nota hoje divulgada, Manuel Linda lamentou ainda que a situação em causa tenha causado "uma busca de pronunciamentos" sobre o tema, nomeadamente como quando há quatro anos usou a expressão "queda de um meteorito", no âmbito da criação de Comissões Diocesanas para a receção de denúncias de abuso. 

"Algo ingenuamente, estava convencido que as estruturas existentes na Diocese e eu próprio seríamos suficientes para receber e tratar os casos que viessem a surgir. Entretanto, quando essas Comissões se tornaram obrigatórias, criei nesta Diocese uma das primeiras em Portugal. Outra expressão que não caiu bem foi usar o termo 'asneiras' relativamente a esses casos. Ora, na minha zona de origem essa palavra designa qualquer ação perversa. Não era, pois, minha intenção menorizar o terrível crime dos abusos", notou.

Estas referências dizem respeito a uma entrevista à TSF, em 20 de abril de 2019, na qual Manuel Linda dizia que não iria avançar com uma comissão para controlo dos casos de abusos sexuais de menores na igreja porque, como comparou, "ninguém cria, por exemplo, uma comissão para estudar os efeitos do impacto de um meteorito na cidade do Porto".

Na mesma entrevista, disse ainda: "Estamos a mudar tudo a nível, fundamentalmente, da formação dos nossos alunos dos seminários, no acompanhamento, na formação contínua do clero. Mesmo assim, alguém pode de facto fazer asneiras? Ai é possível, é possível sempre".

Hoje, o bispo do Porto acaba por reconhecer que os abusos sexuais na Igreja portuguesa são uma realidade "muito mais sombria" do que pensava.

"Temos amarguradamente de reconhecer que a realidade é muito mais sombria e dolorosa do eu que pensava. Fique muito claro que sofro e deploro liminarmente esse flagelo dos crimes de natureza sexual cometidos contra menores ou pessoas vulneráveis. E que tudo farei para lhes pôr cobro", escreveu.

Assumindo a "falha da Igreja em proteger e acolher os mais frágeis", o bispo do Porto defende ser este o "tempo propício" para todos, clérigos e leigos, assumirem a responsabilidade de erradicar dos ambientes eclesiais e de toda a sociedade qualquer tipo de abuso, "defendendo intransigentemente os mais frágeis, acautelando preventivamente qualquer situação de risco e denunciando os crimes para que se faça justiça".

"Sobre isto não deve haver qualquer dúvida. A 'tolerância zero' que o Papa Francisco declarou para toda a Igreja é a que desejo igualmente na nossa Diocese", salientou.

[Notícia atualizada às 19h08]

Leia Também: Vaticano renova acordo com China sobre nomeação de bispos

Recomendados para si

;
Campo obrigatório