Luísa (nome fictício) ultrapassou dois problemas oncológicos, o último dos quais obrigou a uma extração dos ovários, não sem antes congelar material reprodutor (ovócitos).
É com estes ovócitos e o esperma do marido que planeia ter um filho biológico, optando para isso por recorrer a uma gestante de substituição, técnica que ainda não é realizada em Portugal, porque a lei já aprovada ainda não foi regulamentada.
Legal na Ucrânia, que tem sido destino de dezenas de casais portugueses para a prática da gestação de substituição, esta técnica é o negócio de várias empresas.
Para Luísa e o marido, a decisão de recorrer a uma destas empresas já estava tomada e realizados todos os exames e contavam mesmo assinar o contrato este mês, o que foram atrasando devido ao escalar do conflito entre a Ucrânia e a Rússia.
Tinham inclusive viagem planeada e contavam aproveitar esta deslocação para assinar o contrato e fazer a recolha de esperma.
À Lusa, explicou que está tudo tratado: Exames, avaliações clínicas, itinerários e os 40 a 50 mil euros com contam gastar com este procedimento.
A ofensiva militar em território da Ucrânia, que a Rússia lançou hoje de madrugada, abalou os planos do casal que decidiu esperar para ver como a situação evolui, com a certeza de que não se pode dar ao luxo de esperar muito para concretizar o sonho da paternidade.
"O relógio biológico não pára. Não nos podemos dar ao luxo de esperar muito tempo, mas por agora vamos ver como o conflito evolui", afirmou Luísa, 35 anos, menos um que o marido.
Ao mesmo tempo que a diplomacia mundial se desdobra em contactos para evitar o pior, alguns casais portugueses que contavam conseguir um filho através da gestação de substituição em empresas ucranianas estão já a avaliar outros destinos.
Luísa tem seguido um grupo de casais que vão recorrer a gestantes de substituição para obter a melhor informação sobre as empresas que oferecem estes serviços, sendo a Geórgia e o México os destinos mais prováveis.
Para gerir a ansiedade, que aumentou nos últimos tempos, a par do agravamento das tensões na região onde contavam ir buscar um filho dentro de pouco mais de nove meses, se tudo corresse bem, Luísa insiste num pensamento: "Se não aconteceu, é porque não tinha que acontecer".
Lamenta, contudo, que o conflito aconteça numa altura em que os sustos com os cancros que ultrapassou tinham acalmado, ao ponto de equacionarem o avanço para uma gravidez.
"É um adiamento. O projeto continua. Não sabemos é se será na Ucrânia", referiu.
Neste país existem pelo menos duas empresas (Successful Parents Agency e a BioTexCom) que praticam legalmente a técnica da gestação de substituição, frequentemente procurados por casais portugueses heterossexuais e comprovadamente inférteis.
A Rússia lançou hoje de madrugada uma ofensiva militar em território ucraniano com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que as autoridades ucranianas dizem ter provocado dezenas de mortos nas primeiras horas.
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