"Propus no CNSP em outubro que fosse criada uma força especial para atuar junto dos lares de idosos e das suas residências. Devíamos agir de forma mais consequente e mais forte junto dos idosos", afirmou, numa audição conjunta com outros especialistas em saúde pública, no âmbito da Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia, na Assembleia da República.
Considerando a letalidade da doença "um problema urgente" na faixa etária acima dos 80 anos, Jorge Torgal assinalou ainda que o país "teve um aumento de mortalidade de 57%" nas últimas duas semanas e lamentou a existência de "uma geração que está a ser vítima desta situação", com a mortalidade das pessoas com 80 ou mais anos a ascender atualmente a 157 por cada 1000 habitantes.
"Este evoluir da situação exige esta ação, porque permite agir a montante e evitar que os idosos vão para o hospital por razões mínimas, na maior parte dos casos. Vamos baixar certamente o nível de transmissão nas próximas duas semanas, mas o nível de letalidade vai continuar. Se juntarmos mais um período grande de incapacidade das estruturas de saúde em dar resposta aos doentes não covid, esta epidemia sindémica vai, de facto, ter consequências muito graves e ainda estamos a tempo de agir a montante", acrescentou.
Para o especialista em saúde pública, que já liderou no passado a Autoridade do Medicamento (Infarmed) e foi subdiretor-geral da Saúde, a pandemia veio acentuar fragilidades que já existiam a nível social, particularmente na população idosa, e vincou que a "situação se modificou drasticamente" ao nível da mortalidade.
Como arma contra a atual letalidade da covid-19 entre os cidadãos mais velhos, Jorge Torgal invocou a chegada das vacinas e uma administração criteriosa e prioritária junto daqueles que estão socialmente numa situação mais frágil, lembrando as centenas de milhares de idosos que vivem nas suas residências e que não estão abrangidos pela vacinação em lares.
"Temos hoje outra arma que é a vacina e que temos de usar com prioridades e com muito cuidado para podermos fazer dela um instrumento fundamental para evitar as mortes. Os mais idosos devem ser os prioritários. Há muitos idosos que vivem fora dos lares e eles devem ser a prioridade. Se reduzirmos a mortalidade, deixamos de ter este espetáculo das ambulâncias nas urgências. Este é um fator de pressão psicológica que agrava o medo", concluiu.
Em Portugal, morreram 11.886 pessoas dos 698.583 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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