Meteorologia

  • 11 MAIO 2024
Tempo
15º
MIN 15º MÁX 23º

A luta pela causa homossexual em Portugal contada por António Serzedelo

O fundador da Opus Gay, António Serzedelo, foi dos primeiros a lutar publicamente pelos direitos dos homossexuais no pós-25 de Abril, uma causa que continua a defender, aos 75 anos, no seu programa de rádio.

A luta pela causa homossexual em Portugal contada por António Serzedelo
Notícias ao Minuto

11:30 - 17/01/21 por Lusa

País LGBTI+

Para António Serzedelo, o 25 de abril de 1974 foi "o dia mais feliz da sua vida", mas naquela data estava tudo por fazer no que toca aos direitos das pessoas LGBTI+.

Assim, 18 dias após a revolução dos cravos, ele e outros ativistas lançaram o "Manifesto da Liberdade Sexual", publicado no Diário de Notícias.

No manifesto era feita exigência de acabar com a legislação que punia a homossexualidade e defendia-se a não discriminação.

"A única coisa que queríamos era a liberdade, a liberdade de não sermos perseguidos, era a nossa primeira motivação. Depois é que vieram outras conquistas", contou à agencia Lusa.

A luta pela causa dos homossexuais não era possível durante o Estado Novo. Segundo Serzedelo, na altura estas pessoas não se tinham que preocupar só com a PIDE (polícia política do regime ditatorial), mas também com os chamados "arrebentas", pessoas também ligadas à polícia que "arrebentavam com as pessoas ou à pedrada ou à pancada", lembrou.

Assim, as relações homossexuais tinham que ser mantidas em segredo e em círculos fechados, embora os homens oriundos de classe mais altas da sociedade tivessem acesso a alguns bares onde podiam conhecer outros. Mas, mais uma vez, o secretismo era necessário e os bares exclusivamente gay tinham sempre a porta fechada, "só se entrava tendo chave, que custava dinheiro".

Esta classe mais endinheirada podia também "pagar" gorjetas à polícia e assim via os seus processos passar para o fim da lista.

"Aqueles que não podiam pagar, iam lá, levavam um par de estalos, eram humilhados", relatou.

Derrubada a ditadura, Serzedelo afirmou que só foi possível lutar pelas uniões de facto e pelo casamento quando outros países o começaram a fazer.

"A hipótese de um casamento homossexual nem se punha no ambiente pós-25 de Abril, uma vez que nessa altura não era legalizado em nenhum país", lembrou.

"E mais difícil do que o casamento, foi conseguir as uniões de facto. Houve sempre interferências religiosas nestas questões. Agora o Papa [Francisco] fala de união de facto, mas só agora", sublinhou.

A legalização de uniões de facto independentes do género do casal, só chegou em 2001, 27 anos depois do 25 de Abril, e o casamento foi legalizado em 2010.

Em Portugal, a marcha de orgulho realizou-se pela primeira vez no ano 2000 em Lisboa. António Serzedelo estava lá com a associação que fundou, a Opus Gay, e mais "duas ou três associações".

Nesse dia, lembrou, apareceram cerca de 200 pessoas e a marcha foi curto, cingindo-se à zona do Príncipe Real. "Foi [uma iniciativa] condenadíssima pelos jornais e pela opinião pública. Nos meios de comunicação social tratavam-nos como se fossemos terroristas e quiséssemos destruir as famílias e entrar pelas igrejas."

A última marcha de Orgulho realizada em Lisboa decorreu em 2019. Iniciou-se também no Príncipe Real, mas desta vez foi até à Ribeira das Naus. Estima-se que tenha tido a adesão de 50 mil pessoas.

Hoje em dia, António Serzedelo continua a ser ativista, mas agora através de um programa de rádio chamado "Vidas Alternativas" que pode ser ouvido 'online' nas rádios Zero, Apolo, Megaweb e Viriato.

O programa que começou em 1999, faz entrevistas a diferentes figuras da comunidade LGBT+ e continua a alertar para o estigma que ainda tem que ser enfrentado por esta comunidade, com especial destaque para os seniores.

Leia Também: ILGA. Local de trabalho é o "último grande armário" das pessoas LGBTI+

Recomendados para si

;
Campo obrigatório