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Football Leaks. Doyen nunca teve intenção de pagar tentativa de extorsão

O antigo administrador da Doyen Sports, Nélio Lucas, disse hoje que o fundo de investimento "nunca" esteve disponível para pagar a tentativa de extorsão imputada a Rui Pinto para travar as publicações de documentos no 'Football Leaks'.

Football Leaks. Doyen nunca teve intenção de pagar tentativa de extorsão
Notícias ao Minuto

17:57 - 04/11/20 por Lusa

País Football Leaks

No depoimento que ainda decorre na 21.ª sessão do julgamento, Nélio Lucas abordou os contornos dos contactos com Artem Lobuzov, o nome supostamente utilizado por Rui Pinto na troca de mensagens com o empresário e que teria estabelecido uma verba "entre 500 mil e um milhão de euros" para colocar um ponto final na divulgação na Internet de informação confidencial do fundo de investimento.

"Nunca tivemos intenção de pagar, como se veio a ver", começou por referir Nélio Lucas, justificando de seguida o porquê de ter mantido a conversação. "Tive de continuar a responder para ganhar tempo, porque havia uma paragem das publicações, e depois para tentar saber quem era", observou, salientando que, apesar do nome aparentemente russo, o email estava em português e "bem escrito".

Foi na sequência dessas mensagens que se realizou o encontro na estação de serviço da autoestrada A5, em Oeiras, em 22 de outubro de 2015, entre o administrador da Doyen, o advogado Pedro Henriques -- que operava como 'braço direito' - e o advogado Aníbal Pinto, em representação de Artem Lobuzov. A este respeito, Nélio Lucas confirmou também que foi ele próprio a escolher o local para a reunião e não a Polícia Judiciária (PJ), que entretanto já estava a par dos contactos e que já tinha recebido queixas da Doyen e do próprio empresário.

"É o senhor Artem que sugere que a extorsão seja intermediada por advogados, o que deve ser inédito. Era uma situação tão atípica que me socorri de Pedro Henriques para perceber quem era esta malta e o que queriam", referiu, sem deixar de mencionar que o encontro presencial "surge após insistência da outra parte", que tinha mostrado "urgência".

Sem esconder que teve "alguma esperança" em encontrar-se com Rui Pinto, Nélio Lucas revelou até que durante a conversa com Aníbal Pinto chegou a suspeitar de que fosse o advogado que estivesse na posse da documentação da Doyen. Segundo a testemunha, "Aníbal Pinto sabia de tudo o que se estava a passar" e que ele "até sugeriu pagar-se metade do menor valor", ou seja, 250 mil euros em vez de uma verba entre 500 mil e um milhão.

Ato contínuo, o antigo administrador da Doyen disse que o representante de Artem Lobuzov no encontro -- e também arguido neste processo -- queria que lhe pagasse honorários de 300 mil euros e que foi dele a ideia de transformar a situação num suposto contrato de prestação de serviços para Rui Pinto (cuja identidade como criador da plataforma 'Football Leaks' era então ainda desconhecida).

Nélio Lucas confirmou também que a Doyen efetuou diligências para descobrir a origem do ataque ao sistema informático, ao contratar uma empresa britânica de investigação. A operação não chegou a conclusões, mas o empresário defendeu que foram as informações fornecidas no encontro na autoestrada A5 por Aníbal Pinto sobre o seu cliente -- "um jovem entre 20 e 30 anos, a viver no estrangeiro e que já tinha acedido a um banco das Ilhas Caimão" - que ajudaram a PJ a chegar à posterior identificação de Rui Pinto.

"Ao ter deixado falar, foi a melhor coisa que fiz, porque estamos aqui hoje", asseverou, transmitindo a convicção de que havia intenção, "sem dúvida nenhuma", de Artem Lobuzov em receber o dinheiro: "A minha perceção é que queria receber o dinheiro".

Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.

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