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Van Dunem rejeita "negociação da pena" para combater corrupção

A ministra da Justiça esclareceu hoje que a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção não prevê a "negociação da pena", mas antes uma "dispensa da pena", que se tornará obrigatória ou automática caso sejam preenchidos certos requisitos legais.

Van Dunem rejeita "negociação da pena" para combater corrupção
Notícias ao Minuto

20:54 - 12/10/20 por Lusa

País Justiça

Francisca van Dunem respondia a uma pergunta de Paulo Pinto de Albuquerque, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, que juntamente com os conselheiros José Mouraz Lopez e Paulo Dá Mesquita organizaram um ciclo de debates para analisar as principais medidas propostas pelo Governo para reduzir o fenómeno da corrupção em Portugal.

À saída do evento, a ministra referiu aos jornalistas que, ao contrário dos países onde existe negociação da pena (por exemplo, Itália e EUA), a proposta que é feita na Estratégia Nacional é a de que "a vantagem seja atribuída por automatismo desde que verificados os respetivos requisitos".

"Ou seja, que o agente [infrator] denuncie o crime ainda antes da instauração do procedimento criminal, que no caso de se tratar de corrupção para ato ilícito não o tenha praticado e também que devolva aquilo que recebeu [ilicitamente]", precisou Francisca van Dunem.

Segundo Francisca van Dunem, na Estratégia exige-se ainda que "essa denúncia permita ao Ministério Público fazer uma investigação que leve à descoberta da verdade".

Desta forma, adiantou a ministra, desde que se verifiquem estes pressupostos "aplica-se a dispensa da pena", não havendo aqui "uma negociação" como o que existe noutros sistemas jurídicos em que o autor do crime discute com o Ministério Público os termos em que a pena lhe é atenuada". Em suma, sintetizou, "aquilo que se vê nos filmes americanos (EUA)".

"Isto não é a América. É Portugal", ironizou Francisca van Dunem aos jornalistas, tendo antes, em resposta a Paulo Pinto de Albuquerque, defendido que a "negociação da pena" não é a "lógica" contida na Estratégia porque isso implicava uma "inversão do Processo Penal" português.

Questionada por Mouraz Lopez sobre a falta de eficácia no Estado sobre o financiamento dos partidos políticos e as contas dos partidos, a ministra considerou a "questão pertinente", mas defendeu que a legislação existente "dá resposta", lembrando que o parlamento adotou recentemente um pacote de transparência sobre as contas dos partidos.

Nesse domínio, admitiu contudo, que algumas "entidades deviam ter condições para executar a sua missão", pondo assim o acento tónico na falta de meios e não na fraqueza da legislação em vigor.

Em resposta a Paulo Dá Mesquita sobre a necessidade de repensar a instrução (fase processual facultativa e que é por vezes apontada como geradora de morosidade processual), Francisca van Dunem respondeu: "Não vejo no modelo constitucional que temos como abdicar da fase de instrução. Não consigo antever que isso seja possível".

Antes, na sua intervenção por escrito na sessão, a ministra salientou que a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção faz "uma opção clara pela prevenção", reforçando a qualidade desta abordagem.

"Do nosso ponto de partida a prevenção é a única abordagem que nos permite ir às raízes do fenómeno e enfraquecê-las", disse.

Nessa nova abordagem, a ministra defendeu a prevenção através do conhecimento e da formação, envolvendo a educação formal e a formação na Administração Pública, bem como a prevenção pela transparência e clareza nos procedimentos legislativos e administrativos, e simplificação e redução de barreiras regulatórias, facilitação do acesso do acesso dos cidadãos a serviços públicos e melhoria da gestão pública e ativação dos mecanismos de controlo, entre outras medidas.

Disse ainda pretender envolver o setor privado neste pacto anticorrupção impondo às suas organizações -- a partir de certa dimensão - a adoção de programas de cumprimento normativo em moldes idênticos aos que vigorarão no setor público.

A ministra apontou também para a necessidade de "aproximação do início da investigação à data da ocorrência dos factos", bem como a "criação de condições que facilitem o esclarecimento do crime, considerando as suas características de opacidade e a existência de pactos de silêncio".

Maior celeridade na tramitação processual e a exigência de maior eficácia e capacidade dissuasora das sanções penais foram outras das medidas propostas por Francisca van Dunem.

A Estratégia Nacional de Combate à Corrupção foi anunciada no início de setembro pelo Ministério da Justiça e encontra-se em fase de discussão pública antes de ir a debate no parlamento.

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