A CE adotou hoje a "Estratégia da Biodiversidade", com um financiamento de 20 mil milhões de euros por ano, e a "Estratégia do Prado ao Prato", que contempla uma redução para metade da utilização e risco dos pesticidas.

Num comentário às duas medidas, que já tinham sido saudades por ambientalistas europeus, o diretor executivo da SPEA, Domingos Leitão, considerou que a CE apresentou "o que deverá ser o novo normal" de que o planeta "precisa desesperadamente", mas avisou que é preciso agora os Estados-membros implementarem as diretrizes.

"Isto são boas notícias para Portugal, um país com mais de 20% do território classificado como Rede Natura 2000, que aguarda há anos investimento suficiente para a sua gestão sustentável. São também boas notícias para os produtores agropecuários de raças, variedades e sistemas tradicionais, que têm sido os parentes pobres da Política Agrícola Comum (PAC)", disse o responsável, citado num comunicado da organização.

A SPEA, diz Domingos Leitão, espera que Portugal seja forte perante os "interesses instalados" e coloque as medidas em prática, nomeadamente alterando a forma como está delineada a PAC e recuperando habitats em risco. Para que se recuperem espécies e se preserve o património natural.

Os dois documentos hoje apresentados pela CE vão ser a base das principais resoluções das políticas da União Europeia (UE) em matéria de biodiversidade e produção alimentar na próxima década, e serão "um elemento central de recuperação da crise do coronavírus", nota a SPEA.

"A divulgação simultânea das duas estratégias é digna de nota por si só, pois a agricultura e a pesca intensivas são os principais fatores causadores da perda de biodiversidade global. A UE reconhece, assim, que sistemas alimentares destrutivos não podem mais ser a norma na Europa, nem podem ser apoiados pelas políticas europeias", diz ainda o comunicado, que considera que a CE foi ambiciosa com as duas estratégias.

As duas estratégias, frisa a organização, podem levar a UE a ser a líder global no combate às crises climática e da biodiversidade, evitando a extinção de um milhão de espécies, evitando que o aquecimento global ultrapasse os 1,5 graus celsius, e fazendo a diferença na sobrevivência da humanidade.

A "Estratégia do Prado ao Prato", segundo a CE, tem como principais objetivos reduzir em 50% a utilização de pesticidas químicos e risco deles decorrente, e em 50% a utilização dos pesticidas mais perigosos, até 2030. Quer também reduzir as perdas de nutrientes em pelo menos 50%, e reduzir em 50% as vendas de agentes antimicrobianos para animais de criação e aquacultura até 2030.

A "Estratégia da Biodiversidade" propõe medidas concretas para colocar a biodiversidade da Europa na via da recuperação até 2030, incluindo transformar pelo menos 30% das terras e dos mares da Europa em zonas protegidas geridas de forma eficaz e repor elementos paisagísticos de grande diversidade em, pelo menos, 10% da superfície agrícola.

As estratégias terão de ser aprovadas pelo Conselho da UE e pelo Parlamento Europeu e fazem parte da colocação em prática do Pacto Ecológico Europeu.

O Pacto Ecológico Europeu, apresentado pela Comissão Europeia em 11 de dezembro de 2019, define um roteiro para uma economia circular com impacto neutro no clima, em que o crescimento económico esteja dissociado da utilização dos recursos.