Às 12:00, à porta do refeitório já aguardavam muitas pessoas, enquanto dentro de uma das cozinhas a sopa de feijão estava a ser passada numa enorme panela e as batatas a serem fritas.
Noutro lado, o frango era preparado e o pão saía quente de um pequeno forno para o almoço de Natal, no qual foram distribuídos 175 cabazes com bens de primeira necessidade. Durante o resto do ano, quinzenalmente, é organizada ali a "Sopa para todos".
Mahomed Abed, responsável pelo refeitório, acompanhou cada pormenor da preparação e do serviço à mesa, enquanto indicava à agência Lusa que este almoço "já é uma tradição" na comunidade.
"Apesar de sermos uma comunidade religiosa muçulmana, que não celebra o Natal, estamos inseridos na sociedade", justificou o responsável, notando que a ideia do almoço está em prática desde 2005.
O presidente da comunidade islâmica de Lisboa, Abdool Vakil, sublinhou a crença no "ecumenismo das várias religiões", que permite fazerem-se "muitos diálogos inter-religiosos".
"O que temos de promover um bocadinho mais é cumprimentarmos o outro quando ele tem uma festa da sua religião", defendeu Vakil, referindo que, com este almoço, os muçulmanos também se associam à celebração da maioria católica de Portugal.
Abdool Vakil recordou que Jesus Cristo é para os muçulmanos um profeta.
Com a experiência do almoço de Natal e notando um aumento das dificuldades económicas, os responsáveis da mesquita começaram, há cerca de três anos, a organizar duas vezes por mês a "Sopa para todos", jantar com refeição completa e possibilidade de levar comida para casa.
"Quem quiser entra, a porta está aberta", disse Mahomed Abed, que contabilizou 4.400 refeições servidas ao longo deste ano.
O projeto foi bem acolhido dentro e fora da comunidade e os patrocínios não têm faltado, acrescentou.
Maria Madalena, de 81 anos, é uma das pessoas que repetiu a presença no almoço de Natal, e que é presença habitual nas iniciativas solidárias ao longo do ano.
Moradora em Campolide há 50 anos, a idosa explicou que paga muito pelo quarto e o que agradece receber o cabaz, assim como as refeições, nas quais aproveita para conviver.
Com outros moradores do Bairro da Liberdade, Laurentina inscreveu-se na Junta de Freguesia e guardou lugar neste almoço realizado pela mesquita, onde já tinha estado no Natal de 2012.
"Come-se bem, graças a Deus. A sopa estava muito boa e a seguir vamos lá ver o que é que vem", disse à agência Lusa.
E a seguir vinha ainda um prato com almôndegas, chamuças e frango. Variados doces também constavam do menu de um almoço que, em 2014, deve voltar a cumprir uma tradição católica num templo religioso muçulmano.