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Irene Pimentel encara com cautela abertura dos arquivos do Vaticano

A historiadora Irene Flunser Pimentel está a encarar com cautela a abertura dos arquivos referentes ao pontificado do Papa Pio XII, sublinhando que se mantém a polémica sobre o silêncio do Vaticano durante a II Guerra Mundial.

Irene Pimentel encara com cautela abertura dos arquivos do Vaticano
Notícias ao Minuto

09:00 - 29/02/20 por Lusa

País Vaticano

"Estou cautelosa relativamente ao assunto. Parece uma coisa muito boa. Já se chegou a altura, 75 anos depois do fim da II Guerra Mundial, de se abrirem estes arquivos, mas vamos ver como é que vão ser abertos e se vão todos ser abertos", disse à agência Lusa a historiadora, recordando que a Igreja Católica mantém sempre reservas sobre documentos históricos.

"Será que vai ser tudo aberto? Por exemplo, os arquivos do Cardeal Cerejeira também foram abertos e com grande publicidade em Portugal, mas depois vai-se a ver que há períodos em que não se pode ver nada, sobretudo os períodos mais recentes", refere.

"É importante inclusivamente para o estudo sobre o que aconteceu em Portugal, Espanha e Itália, sendo países com grande influência católica. Vai ser fundamental a abertura destes arquivos, mas vamos ver se vão ser abertos todos e de forma completa", ressalva Irene Pimentel.

Os arquivos que conservam a documentação de Eugenio Pacelli (Papa Pio XII), durante o pontificado que se prolongou entre 1939 e 1958, vão ser desclassificados a partir de segunda-feira por decisão do Papa Francisco que disse não ter medo da História.

O Vaticano confirmou na semana passada a abertura dos arquivos reforçando a ideia de que a consulta da documentação venha a esclarecer o silêncio do Papa Pio XII acusado durante as últimas décadas de não ter levantado a voz contra o nazismo durante a II Guerra Mundial (1939-1945).

óbvio que todo este período é muito polémico. De uma certa forma, a Igreja Católica tem sempre tentado dizer que perante o que já se sabia sobre o Pio XII, que foi um Papa que até ajudou judeus durante o Holocausto. Isso não é bem assim, antes pelo contrário", afirma Irene Pimentel.

A historiadora com obra publicada sobre o período da II Guerra Mundial recorda que "houve uma altura" em que o Vaticano negociou com o Brasil vistos de entrada para judeus, mas desde que se convertessem ao catolicismo.

Irene Pimentel refere ainda que Pio XII conhecia "muito bem" a Alemanha porque tinha sido núncio apostólico já com Hitler como chanceler e "tinha uma boa relação com a Alemanha nazi".

Por outro lado, acrescenta, a seguir à guerra, em 1945 o Vaticano esteve envolvido na linha de fuga de nazis à justiça dos Aliados.

"Pode-se alegar que o Vaticano não sabia muito bem o que se estava a passar mas o Vaticano foi talvez, enquanto Estado, aquele que mais depressa soube o que estava acontecer na Polónia sobre o genocídio dos judeus. Por uma razão muito simples: tinha uma organização que lhe permitia ter informações privilegiadas sobre o que estava a acontecer", sublinha a historiadora.

Anteriormente, o Pio XI que antecede o pontificado de Eugenio Pancelli, tinha criticado a Alemanha nazi, "não tanto pelas perseguições aos judeus ou aos comunistas" mas sobretudo pela perseguição aos católicos na Polónia.

"A partir de 1937 houve um medo muito grande que a Alemanha nazi acabasse com as organizações de ação católica e Pio XI manifestou-se contra", recorda a historiadora sublinhando que a partir de 1939 o Papa Pio XII, pelo contrário, foi muito mais cuidadoso ou cauteloso ou mesmo passivo.

"De um modo geral o pontificado de Pio XII pode ser caracterizado pelo silêncio e ainda por cima havia concordatas e, por isso, o Vaticano era ouvido por todos os lados beligerantes e inclusivamente pela própria Alemanha nazi. Portanto, o Vaticano podia ter feito muito mais do que fez perante o que ia sabendo sobre o que estava a acontecer", disse Irene Pimentel.

A historiadora é autora, entre outros dos livros, "Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial", "Salazar, Portugal e o Holocausto", "Espiões em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial", além da obra sobre o Estado Novo e da polícia política da ditadura portuguesa.

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