Trocas genéticas justificam variação da pelagem entre espécies de lebres
Uma equipa internacional, liderada por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), concluiu que as trocas genéticas entre diferentes espécies de lebres têm um papel "recorrente" na variação da cor da pelagem, foi hoje anunciado.
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País Lebres
Em comunicado, o CIBIO-InBIO, da Universidade do Porto, explica que o estudo, hoje publicado na revista 'Proceedings of the National Academy of Sciences', visava "compreender as diferenças de cor da pelagem no inverno" da espécie lebre-variável ('Lepus timidus').
Para isso, os investigadores estudaram a variação genética ao longo de todo o genoma da população de lebre-variável das Ilhas Faroé (arquipélago localizando entre a Noruega e a Islândia), que, ao longo das gerações passou a apresentar coloração cinzenta durante o inverno.
"Os registos históricos indicam que, inicialmente as lebres das Ilhas Faroé mudavam a pelagem para branco no inverno (...). No entanto, ao longo das gerações cada vez mais lebres passaram a mudar para cinzento e, atualmente, todas as lebres desta população apresentam coloração cinzenta durante o inverno", adianta o centro de investigação.
Os investigadores, que além das bases genéticas das lebres das ilhas Faroé, analisaram também populações da Escandinávia e Alpes e de mais cinco espécies da Europa e da América do Norte, concluíram, à semelhança de uma investigação anterior, que o gene Agouti é "o responsável pelas diferenças de cor".
"O gene Agouti, que tinha sido anteriormente associado à variação de cor da pelagem na lebre-americana, é também responsável pela variação semelhante na lebre variável", afirma o CIBIO-InBIO.
Citado no comunicado, José Melo-Ferreira, coordenador do artigo, explica que a sequência de ADN do gene Agouti que faz com que as lebres variáveis sejam cinzentas no inverno "foi incorporada através de hibridação com a lebre ibérica".
"Muito provavelmente foi quando as duas espécies coexistiram no sul da Europa há milhares de anos, e muito antes da lebre variável ter sido introduzida nas ilhas Faroé", refere o investigador do CIBIO-InBIO.
Segundo José Melo-Ferreira, este estudo vem assim mostrar como os "processos independentes de introgressão [hibridação]" são responsáveis pela variação de cor que permitiu a adaptação ao local.
"Estes resultados mostram que, no processo evolutivo, por vezes as mesmas soluções podem ser encontradas para os mesmos problemas. É como se a evolução se repetisse", sublinha o investigador.
O CIBIO-InBIO adianta que no caso das lebres das Ilhas Faroé, a seleção natural teve "um papel crucial" na adaptação a um ambiente que é tendencialmente mais rochoso, com menos neve e "grande incidência de caça por humanos".
"Estes processos de adaptação a ambientes com cobertura de neve mais efémera poderão, assim, ser fundamentais para a adaptação rápida às alterações climáticas", concluiu o centro de investigação da Universidade do Porto.
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