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Trocas genéticas justificam variação da pelagem entre espécies de lebres

Uma equipa internacional, liderada por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), concluiu que as trocas genéticas entre diferentes espécies de lebres têm um papel "recorrente" na variação da cor da pelagem, foi hoje anunciado.

Trocas genéticas justificam variação da pelagem entre espécies de lebres
Notícias ao Minuto

20:00 - 11/11/19 por Lusa

País Lebres

Em comunicado, o CIBIO-InBIO, da Universidade do Porto, explica que o estudo, hoje publicado na revista 'Proceedings of the National Academy of Sciences', visava "compreender as diferenças de cor da pelagem no inverno" da espécie lebre-variável ('Lepus timidus').

Para isso, os investigadores estudaram a variação genética ao longo de todo o genoma da população de lebre-variável das Ilhas Faroé (arquipélago localizando entre a Noruega e a Islândia), que, ao longo das gerações passou a apresentar coloração cinzenta durante o inverno.

"Os registos históricos indicam que, inicialmente as lebres das Ilhas Faroé mudavam a pelagem para branco no inverno (...). No entanto, ao longo das gerações cada vez mais lebres passaram a mudar para cinzento e, atualmente, todas as lebres desta população apresentam coloração cinzenta durante o inverno", adianta o centro de investigação.

Os investigadores, que além das bases genéticas das lebres das ilhas Faroé, analisaram também populações da Escandinávia e Alpes e de mais cinco espécies da Europa e da América do Norte, concluíram, à semelhança de uma investigação anterior, que o gene Agouti é "o responsável pelas diferenças de cor".

"O gene Agouti, que tinha sido anteriormente associado à variação de cor da pelagem na lebre-americana, é também responsável pela variação semelhante na lebre variável", afirma o CIBIO-InBIO.

Citado no comunicado, José Melo-Ferreira, coordenador do artigo, explica que a sequência de ADN do gene Agouti que faz com que as lebres variáveis sejam cinzentas no inverno "foi incorporada através de hibridação com a lebre ibérica".

"Muito provavelmente foi quando as duas espécies coexistiram no sul da Europa há milhares de anos, e muito antes da lebre variável ter sido introduzida nas ilhas Faroé", refere o investigador do CIBIO-InBIO.

Segundo José Melo-Ferreira, este estudo vem assim mostrar como os "processos independentes de introgressão [hibridação]" são responsáveis pela variação de cor que permitiu a adaptação ao local.

"Estes resultados mostram que, no processo evolutivo, por vezes as mesmas soluções podem ser encontradas para os mesmos problemas. É como se a evolução se repetisse", sublinha o investigador.

O CIBIO-InBIO adianta que no caso das lebres das Ilhas Faroé, a seleção natural teve "um papel crucial" na adaptação a um ambiente que é tendencialmente mais rochoso, com menos neve e "grande incidência de caça por humanos".

"Estes processos de adaptação a ambientes com cobertura de neve mais efémera poderão, assim, ser fundamentais para a adaptação rápida às alterações climáticas", concluiu o centro de investigação da Universidade do Porto.

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