A tragédia começou no dia 17 de julho, no dia em que era suposto que a família belga encerasse o capítulo das férias em Portugal e levasse na bagagem apenas boas memórias deste país à beira-mar plantado. Mas a história teve outro desfecho, nada risonho. Perdeu-se uma vida, a de Vic.
Durante 15 dias, a família da criança que morreu depois de ter ficado presa no filtro da piscina de uma unidade de turismo rural, em Azeitão, esteve de férias em terras lusas e no dia 17 deveria rumar à Bélgica. Enquanto o pai começou a preparar as malas, Vic e as outras crianças foram brincar juntas na piscina, enquanto um casal as vigiava, ao passo que preparava o almoço, explicou a mãe numa publicação nas redes sociais.
As crianças mergulharam e rapidamente perceberam que Vic ficou preso num buraco na piscina, justamente na parte mais profunda que tem pelo menos 1,90 cm de altura. “De imediato todos entrámos na água para ajudá-lo, mas era impossível libertá-lo”. Na primeira tentativa, “ele ainda estava vivo e em movimento, tentando libertar-se”, recorda. Foi então que a mãe entrou em pânico porque ”estava claro que não conseguiríamos tirá-lo, mas continuamos a tentar”. A família ligou então o número de emergência, 112, e “redirecionaram a chamada cinco vezes até que alguém nos falasse em inglês”.
Família de Vic© Facebook/Michael Wanzeele
Enquanto isso, as pessoas que estavam no local procuravam o quadro da eletricidade para parar o filtro, mas nada “do que encontrámos no painel era útil. Ninguém sabia onde encontrar a instalação da piscina”. Ansie, a mãe, ligou então para a empresa responsável pela propriedade de alojamento rural, Arrábida Country Retreat, e gritou explicando a situação, mas nada lhe foi dito sobre o local onde poderia ser desligada a instalação elétrica.
Naquela altura, a família percebeu que não seria capaz de tirar Vic do fundo da piscina, “onde ele continuava deitado já sem movimento”. Dado o desespero, Ansie correu descalça pela rua para mostrar o caminho às equipas de emergência.
Já em ação, os bombeiros, apesar das tentativas, também não conseguiram tirar a criança. Procuraram então a instalação elétrica que “parecia estar numa pequena casa a caminho da garagem, trancada”. Finalmente, os bombeiros conseguiram desligar o sistema de filtragem e libertar Vic, que tinha estado privado de oxigénio, debaixo de água, durante 15 a 20 minutos.
Começaram as manobras de reanimação e recuperaram-no após 40 a 45 minutos. A criança foi então transportada para o Hospital de Dona Estefânia “e imediatamente cercada com os melhores cuidados e amor pela equipa da unidade de cuidados intensivos pediátricos ”.
Revela ainda a mãe da criança que os médicos foram claros relativamente à gravidade do estado de Vic, porém iriam “tentar tudo o que podiam para o recuperar, mas não tinham certeza se conseguiriam... e ele não conseguiu”.
No sábado, dia 21, uma ressonância magnética indicava que o cérebro tinha sofrido danos severos e tudo apontava para que Vic estivesse em morte cerebral. Esta segunda-feira, dia 23, ele “morreu pela segunda vez nos nossos braços”.
Em tom de desabafo, os familiares terminam a publicação desejando que o filtro da piscina estivesse coberto, já que a “sucção era tão forte que ele não tinha hipóteses”. Com esta publicação, o casal pretende garantir que irá ser feita uma “investigação completa deste caso e que serão tomadas as medidas necessárias para evitar que uma tragédia aconteça com outra família”.
