Em causa está um comunicado do Ministério da Comunicação Social angolano, emitido na quarta-feira, acusando o semanário Folha 8 e também a Rádio Despertar de veicularem “ofensas e calúnias contra instituições do Estado e titulares de órgãos de soberania” e de apelarem à “desordem pública”.
No comunicado, divulgado pela agência angolana Angop, a tutela insta os dois órgãos a mudarem de “conduta”, avisando que, caso contrário, poderá adotar medidas administrativas e judiciais, incluindo a “suspensão temporária das emissões da Rádio Despertar” e uma sanção idêntica ao Folha 8.
“Não estamos preocupados com este tipo de posicionamento castrense do Ministério da Comunicação Social”, assegurou, em declarações à Lusa, via telefone, o jornalista e diretor do Folha 8, William Tonet, reclamando-se proprietário do “único jornal independente, sem um chavo do poder, nem um chavo da oposição”.
William Tonet referiu ainda como “caricato” que o Ministério da Comunicação Social não tenha enviado o comunicado em causa aos destinatários nele visados. “Nunca o Ministério mandou nada para nós, nunca o Ministério nos contactou. Soubemos por outros meios”, realçou.
“Não é competência de um Ministério vir dizer isto, se depois não apresenta um único facto de que fizemos agitação”, disse, queixando-se de “perseguição do Presidente da República", José Eduardo dos Santos.
“Temos consciência da natureza do regime, que não só ameaça, como mata. Temos que estar preparados para a morte. Isto é uma declaração de guerra”, considera, recusando juntar-se aos “bajuladores do regime”.
Em declarações à Lusa, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos reconheceu ter ficado “surpreendido” com a ameaça de suspensão do Folha 8 e da Rádio Despertar, adiantando que já manteve “um contacto com o Ministério” da Comunicação Social, “para entender melhor a tomada de posição”.
A tutela “reiterou as queixas que tem contra o comportamento dos dois órgãos”, mas “tranquilizou” o sindicato garantindo que “pretende apenas alertar e, consoante a reação que houver da outra parte, não ir para além disto”, referiu Fiona Casimiro, presidente da Comissão de Deontologia e Ética do Sindicato dos Jornalistas Angolanos.
Apelando à “moderação” e ao “diálogo” entre as partes, o sindicato realçou que os abusos na imprensa angolana são cometidos “em maior número” nos meios públicos, “que continuam com uma postura editorial pouco recomendável no sentido do interesse público e do respeito da deontologia profissional”.