Textos e esculturas da extinta cultura Maia descrevem governantes e grandes acontecimentos, atribuindo datas em função de um complexo sistema por meio de pontos e barras conhecido como "contagem longa", que consiste em cinco unidades de tempo - Bak'tun (144.000 dias), K'atun (7.200 dias), Tun (360 dias), Winal (20 dias) e K'in (um dia).
O tempo é contado a partir de um ponto de partida mítico, mas a data deste ponto de partida é desconhecida porque os colonizadores espanhóis eliminaram muitos vestígios da civilização Maia, destruindo provas que poderiam ter oferecido uma pista.
Uma equipa de antropólogos liderada por Douglas Kennett, da Universidade Estadual da Pensilvânia, usou a datação por carbono, medindo a idade do material orgânico a partir de resíduo de carbono 14, uma partícula que se decompõe a uma taxa constante.
Os investigadores retiraram uma pequena amostra de uma verga de madeira entalhada encontrada num templo da cidade de Tikal - o centro da extinta civilização Maia -, que relata o acontecimento em que o rei de Tikal, Jasaw Chan K'awiil I, derrotou Yich'aak K'ahk, conhecido como "Garra de Fogo", que liderou um reino rival em Calakmul, a 90 quilómetros de distância.
Ao fazer uso da espectrometria de massa com aceleradores, a equipa de investigação concluiu que os entalhes foram esculpidos por volta de 658-696 - uma estimativa que se aproxima da marca de referência para datação Maia, o denominado método Goodman-Martinez-Thompson, que aponta a data do evento para 695-712.
Esse valor foi corroborado pelo uso precoce de datação por carbono 14 em duas outras vigas de madeira de Tikal na década de 1950, e a equipa de Kennett sugere que pequena discrepância entre ambas as datas pode encontrar uma explicação na própria madeira que terá levado anos para esculpir usando implementos da idade da pedra.
Munidos de duas boas datas para a altura em que ocorreu esta batalha decisiva, os historiadores poderão definir uma cronologia mais exacta da ascensão e queda da civilização Maia, aponta o estudo publicado na revista científica 'Nature' que refere que antigos maias atingiram o auge do seu poder na América Central entre 250 e 900.
A razão para o súbito colapso da civilização Maia também tem sido muito debatida, sendo algumas das causas mais apontadas doenças, invasões estrangeiras, desflorestação ou alterações climáticas que levaram a uma prolongada e devastadora seca.