Akram al Basyouni, de 45 anos, vivia no norte de Gaza. Foi um dos cerca de 1.700 palestinianos que foram libertados na passada segunda-feira, dia 13 de outubro, devido ao acordo de paz assinado entre o país e o Hamas.
Akram al Basyouni foi preso pelas forças israelitas no dia 10 de dezembro de 2023 quando estava num abrigo em Jabalia.
"Muitos dos nossos companheiros foram espancados até à morte. Quando gritávamos por ajuda aos guardas, eles respondiam friamente: 'Deixem-no morrer'. Cinco minutos depois, levavam o corpo, embrulhavam-no num saco e fechavam a porta", contou numa entrevista à Sky News.
O palestiniano revelou ainda que, diariamente, ele e os companheiros eram torturados, espancados com cacetetes, atacados por cães e era-lhes lançado gás naquilo a que os guardas chamavam de "cerimónia de boas-vindas".
"Batiam-nos com tanta violência que fraturam as nossas costelas. Derramaram água a ferver sobre o rosto e as costas dos jovens até a pele descascar. Ficávamos sentados no chão de metal frio durante dias, punidos até por pedir ajuda", continuou.
Al Basyouni alegou ainda que os prisioneiros eram forçados a permanecer de joelhos durante longas horas, privados de roupas e cobertores e submetidos a abusos religiosos e psicológicos.
"Eles amaldiçoaram o Profeta, rasgaram o Alcorão à nossa frente e insultaram as nossas mães e irmãs com uma linguagem desagradável", disse, acrescentando que os guardas disseram aos prisioneiros que as suas famílias "estavam mortas" e que "não havia mais Gaza".
Os relatos de Al Basyouni vão de encontro aos de muitos outros prisioneiros palestinianos já libertados e que denunciaram espancamentos, falta de comida e privação de assistência médica.
O palestiniano de 45 anos relatou que muitos dos prisioneiros, incluindo médicos, morreram devido a espancamentos e/ou negligência médica.
"Ouvi falar do Dr. Adnan al Brush. Foi atingido no peito por um guarda prisional, na zona do coração. Perdeu a consciência imediatamente e morreu cinco minutos depois", contou.
Uma investigação da Sky News apurou que o Dr. al-Brush, um dos cirurgiões mais respeitados de Gaza, morreu depois de ter sido torturado, tendo tido várias costelas fraturadas e ferimentos graves enquanto esteve na prisão de Ofer.
Akram al Basyouni afirmou ainda que conheceu um outro médico, o Dr. Hossam Abu Safiya, em Ofer e revelou que um outro médico foi submetido a "torturas severas e contínuas".
Akram al Basyouni, one of about 1,700 detainees from Gaza who had been held by Israel without charge, has described scenes of systematic torture, humiliation and death inside Israeli detention.
— Sky News (@SkyNews) October 15, 2025
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De acordo com um relatório das Nações Unidas (ONU) de 2024, desde o dia 7 de outubro de 2023, milhares de palestinianos foram mantidos arbitrariamente por Israel, estando incontactáveis, acorrentados, submetidos a tortura e privados de água, comida, sono e assistência médica.
Por seu turno, Israel afirmou estar a seguir os padrões legais nacionais e internacionais para o tratamento de prisioneiros e que quaisquer violações cometidas por funcionários da prisão são investigadas.
Note-se ainda que o ministro da Segurança Nacional israelita, Ben-Gvir, que supervisiona as prisões do país, gabou-se diversas vezes de tornar as condições para os palestinianos as mais duras possíveis, mas dentro da lei.
O meio britânico entrou em contacto com o Serviço Prisional de Israel e com as Forças de Defesa israelitas para obter um comentário sobre o assunto. No entanto, não obteve respostas.
A troca de reféns israelitas e de prisioneiros palestinianos
O Hamas libertou os últimos 20 reféns vivos e Israel libertou quase 2.000 prisioneiros palestinianos, na manhã desta segunda-feira, como parte de um acordo de cessar-fogo, negociado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que aterrou hoje em Israel, a proclamar o "fim" da guerra.
A começar de madrugada, no total 20 reféns foram libertados e devolvidos a Israel pelo Hamas, sendo pouco depois soltos 1.968 palestinianos por Israel, que podem ser vistos, nas imagens, a chegar à cidade de Ramallah, na Cisjordânia, de autocarro.
Há ausências de nomes na lista de prisioneiros
Israel libertou na segunda-feira quase 2.000 presos palestinianos, a maioria detida nos últimos dois anos em Gaza e 250 com penas de prisão perpétua, mas continuam presos figuras de relevo.
Na lista divulgada, faltam nomes como o de Marwan Barghouti, visto por muitos como o sucessor de Mahmoud Abbas à frente da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), ou o do diretor do Hospital Kamal Adwan, em Gaza, Hussam Abu Safiya.
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