O grupo islamita Hamas libertou, na segunda-feira, os 20 reféns ainda vivos que estavam em cativeiro desde o ataque do dia 7 de outubro de 2023. Entretanto, já reunidos com as famílias, começam a surgir os primeiros relatos sobre os 738 dias que passaram na Faixa de Gaza.
A mãe de agora ex-refém Matan Angrest, Ana, contou que o filho foi espancado de forma tão violenta pelo Hamas que chegou a perder os sentidos.
"Ele lembra-se de ter sido espancado tão violentamente que perdeu a consciência. Cobriram-no com sacos pretos e arrastaram-no", revelou Ana Angrest aos meios de comunicação israelitas.
Matan Angrest, soldado das Forças de Defesa de Israel (IDF, sigla em inglês) e que foi capturado quando estava dentro de um tanque perto da Faixa de Gaza, disse à família que, durante os ataques aéreos, as paredes do túnel, onde estava a ser mantido em cativeiro, desabaram à sua volta.
"Eles ficaram soterrados muitas vezes, procuraram sair e sobreviver", continuou a mãe do jovem, acrescentando que, nos últimos quatro meses, Matan esteve confinado num túnel sem qualquer luz.
EMOTIONAL REUNION: Freed Israeli hostage Matan Angrest, 22, embraces family after two years in Hamas captivity. pic.twitter.com/fwh0R4uLkD
— Fox News (@FoxNews) October 13, 2025
O jornal israelita Haaretz deu ainda conta de que Ariel Cunio e Rom Braslavski foram mantidos em total isolamento durante grande parte do tempo.
Por exemplo, Ariel Cunio referiu à emissora pública Kan que esteve sozinho durante o seu cativeiro, não sabendo que o irmão David e a namorada Arbel Yehoud estavam vivos. O mesmo aconteceu com Braslavski, de 21 anos, que contou aos seus pais ter passado dias acorrentado, foi forçado a dormir no chão e que não tinha acesso a comida.
FREEDOM: Brothers and former Hamas hostages Ariel and David Cunio reunite with family. Some of their family members were also abducted and released in earlier hostage deals. pic.twitter.com/cQvEnGON1D
— Fox News (@FoxNews) October 13, 2025
Os reféns agora libertados - a par de outros - disseram que os membros do Hamas comiam à sua frente enquanto eles estavam famintos, notando que as coisas começaram a piorar quando Israel retomou as operações terrestres em março.
Já o Chanel 13 News noticiou que os reféns nunca receberam uns sapatos e que alguns deles estiveram acorrentados de forma contínua.
Os pais de Alon Ohel, um jovem de 24 anos, revelaram que o filho havia sido transferido há apenas algumas semanas dos túneis e que estava a servir como "escudo humano".
"Eles mudaram-no de repente para um túnel no centro de Gaza. As IDF anunciaram uma operação na cidade de Gaza e usaram-no como escudo humano", contaram.
Heartwarming moments: After being kidnapped on October 7, 2023, and surviving more than 2 years in Hamas captivity in Gaza, Alon Ohel is with family at the hospital in Israel.
— StandWithUs (@StandWithUs) October 13, 2025
Credit: GPO pic.twitter.com/G4SPaHbfxG
Omri Miran, o mais velho dos reféns ainda vivos, disse aos familiares que contou cada um dos 738 dias passados, tendo estado em 23 locais diferentes durante o cativeiro.
"Ele esteve num túnel, mas também esteve na superfície. Às vezes, ele cozinhava para os seus sequestradores e eles gostavam do que cozinhava", contou o irmão, Nadav Miran.
E acrescentou: "Ele sabia exatamente qual era a data de hoje. Não escreveu, fê-lo mentalmente".
De acordo com Nadav, o irmão passou grande parte do tempo "a jogar às cartas com os sequestradores" e, embora, fisicamente esteja diferente, o humor de Omri "é o mesmo".
Omri Miran is reunited with his daughters, the youngest of whom was only 6 months old when he was kidnapped.
— Hen Mazzig (@HenMazzig) October 13, 2025
She has no memories of her own father.
But now, they can make new ones together. pic.twitter.com/tsOWt3LoF2
Já o pai de Evyatar David revelou que o filho está fraco e abaixo do peso depois de meses a passar fome: "Mesmo depois do vídeo que chocou o país inteiro, os seus raptores continuaram a matá-lo à fome".
No entanto, poucos dias antes da sua libertação, o Hamas começou a alimentá-lo mais do que o normal e Evyatar percebeu que estavam "a tentar engordá-lo", assim começou "a comer devagar e com cuidado".
Recorde-se que Evyatar David foi sequestrado juntamente com o seu melhor amigo, Guy Gilboa-Dalal, no festival de música Supernova. Os dois estiveram grande parte do tempo juntos, mas acabaram por ser separados durante as últimas seis semanas.
Na segunda-feira, reencontram-se no hospital. "Sabíamos que eles iam voltar", disseram as famílias de ambos numa declaração conjunta à imprensa.
Probably my favorite reunion video
— Aviva Klompas (@AvivaKlompas) October 14, 2025
Childhood friends Guy Gilboa-Dalal and Evyatar David were taken hostage together from the Nova festival on October 7. They were held together for months, but eventually separated. In August, Hamas released a video showing Evyatar emaciated… pic.twitter.com/mzAmDU5uPJ
Os 20 reféns depois de libertados foram levados para o hospital. Os médicos disseram que todos sofriam de desnutrição severa, infeções respiratórias e problemas de pele causados pelos dois anos em que foram mantidos em túneis sem luz e húmidos.
A recuperação dos reféns, segundo os médicos, poderá levar meses e encontram-se, neste momento, a cumprir uma dieta restrita por forma a evitar complicações na reintrodução alimentar. Estão ainda debaixo de supervisão psiquiátrica.
Para as famílias, os reencontros foram um 'mixed feelings' de alívio e tristeza.
De notar que há ainda familiares que aguardam os restos mortais dos reféns que foram mortos em cativeiro ou que os corpos levados para Gaza. Na segunda-feira, o Hamas entregou quatro corpos de reféns a Israel.
Divulgadas identidades de dois reféns mortos
O exército israelita divulgou esta manhã de terça-feira a identidade dos reféns mortos devolvidos ontem pelo Hamas.
Em comunicado partilhado nas suas redes sociais, as Forças de Defesa de Israel revelam que as vítimas mortais são Guy Iluz, um israelita de 26 anos e Bipin Joshi, um estudante nepalês de 22 anos. A identidade das duas outras vítimas não foram partilhadas a pedido das suas famílias, disse o exército num comunicado, citado pela agência France-Presse (AFP).
Estudante de agricultura, Bipin Joshi, que tinha 22 anos na altura do ataque de milícias extremistas palestinianas lideradas pelo Hamas em 07 de outubro de 2023, foi sequestrado no 'kibutz' Aloumim.
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