"A melhor maneira de evitar a guerra é mostrar que se está preparado", afirmou Ben Hodges, em entrevista à Lusa, no âmbito do Fórum La Toja - Vínculo Atlântico, que hoje termina na ilha de La Toja, na Galiza, Espanha.
Para Hodges, esta necessidade de preparação é uma das medidas necessárias para a Europa se tornar menos dependente dos Estados Unidos da América (EUA) em termos militares.
"Treinam? [os militares europeus] Podem usar as suas armas? O equipamento funciona? Têm soldados suficientes? Há que estar preparado", afirmou.
Para o ex-comandante, a primeira coisa a fazer para uma maior independência militar europeia é que os líderes europeus falem com a população "como adultos".
"Explicar o que está em jogo, explicar o risco, explicar o que acontece se a Ucrânia falhar, se não formos capazes de proteger os nossos aeroportos, portos ou outras infraestruturas dos drones russo, por exemplo. Falem com as pessoas como se fossemos adultos, para nos prepararmos", defendeu.
A Europa também não deve "ter medo da Rússia".
"Se juntarmos as economias, a riqueza, a tecnologia, a indústria de toda a União Europeia, mais a Noruega, o Reino Unido, o Canadá... Tudo isso é muito maior do que a Rússia", observou.
Para Hodges, a Europa devia "deixar de se preocupar com o que a Rússia lhe pode fazer". A Rússia é que devia "preocupar-se em não nos provocar", defendeu.
A Europa, observa o ex-comandante, "precisa de mais autoconfiança" e "devia ter muito mais confiança na sua qualidade".
Falta também à Europa "vontade política", alertou.
"Ninguém, exceto Vladimir Putin, quer esta guerra. Mas se ele não for travado, vamos assistir à chegada de mais milhões de refugiados da Ucrânia, à continuação da interrupção do fornecimento de energia e de alimentos, que nos afeta a todos, à continuidade na perturbação nas nossas economias", descreveu.
Hodges, que comandou o exército dos EUA na Europa entre 2014 e 2018, defende que nunca viu "a Europa estar tão unida".
Questionado sobre se a Europa consegue ser forte perante a Rússia sem o apoio dos EUA, o ex-comandante disse acreditar "absolutamente".
"Se somarmos as economias, as vantagens tecnológicas, a riqueza, a indústria, a população, é muito maior do que a Rússia", sustentou.
Por outro lado, "a Rússia está em grandes sarilhos".
"Esta guerra já dura há 11 anos. A Rússia só tem cerca de 20% da Ucrânia e mais de um milhão de baixas. A sua economia está em grandes dificuldades. Se conseguirmos continuar a atacar as suas infraestruturas petrolíferas, penso que será muito difícil para a Rússia continuar a fazer o que está a fazer", explicou.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após o desmoronamento da União Soviética - e que tem vindo a afastar-se da esfera de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia a cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kyiv têm visado, em ofensivas com drones, alvos militares em território russo e na península da Crimeia, ilegalmente anexada por Moscovo em 2014.
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