Após ser obrigada a regressar a Barcelona devido ao mau tempo, a frota humanitária, que visa chegar a Gaza, está, de novo, “pronta” para zarpar.
A informação é avançada pelo jornal espanhol La Vanguardia, que cita o próprio coordenador da flotilha, Saif Abukeshek, que explicou que os especialistas disseram aos passageiros das embarcações que, se chegassem na data esperada a Menorca, iam enfrentar uma forte tempestade.
No domingo, (quando as embarcações retornaram a Barcelona) o vento de frente que se fazia sentir podia ter lesado "os barcos, as pessoas e a velocidade" da viagem.
Abukeshek afirmou que, neste momento, ainda havia algum vento, mas que já não tinha a mesma intensidade e que, por isso, não seria prejudicial à missão.
Agora, contou o coordenador, só falta reabastecer os tanques das embarcações para regressarem ao mar e à viagem humanitária rumo a Gaza - apesar de ainda não especificar quando exatamente é que vão retornar a missão.
"Colocamos um pouco de gasolina. Acho que falta um ou dois, para termos todos os depósitos cheios", acrescentou.
Coordenador da flotilha diz que israelitas estão a tentar "justificar os crimes"
Abukeshek teve também uma palavra a dizer sobre as ameaças do ministro israelita Ben Gvir, que disse querer rotular ativistas de "terroristas" para os impedir de cumprir apenas sentenças curtas se se dirigissem a Gaza.
"Essa política israelita é usada para justificar os crimes que eles querem cometer", respondeu o coordenador da missão.
Flotilha teve de regressar a Barcelona devido ao mau tempo no domingo
A 'Flotilha Global Summud', composta por cerca de 20 embarcações, carregadas com ajuda humanitária, alimentos e medicamentos, zarpou por volta das 16h (horas locais) de Barcelona no domingo, mas teve de regressar a Espanha apenas algumas horas depois devido ao mau tempo.
A decisão foi tomada durante uma reunião, entre os membros da expedição.
Recorda o jornal espanhol que esta é a missão "mais importante até o momento para colocar um ponto final no bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza, com acesso à região por mar".
Este cerco já causou a morte de mais de 60 mil palestinianos, centenas dos quais morreram de fome nas últimas semanas.
A 'Flotilha Global Summud' não visa apenas entregar alimentos e medicamentos à população civil, quer também "pressionar os estados europeus a fortalecerem suas relações com Israel".
Esta será a quarta flotilha este ano, após três tentativas frustradas de contornar o bloqueio de Israel a Gaza.
Português a bordo diz que regresso a Barcelona é "fustrante"
Miguel Duarte, um dos três portugueses que abraçaram esta missão, falou à SIC Notícias sobre o 'recuo', admitindo que "é frustrante sair e depois ter de abrandar", sublinhando, no entanto, que "estas coisas são absolutamente normais".
"Faço missões de resgate marítimo no Mediterrâneo há quase 10 anos e isto acontece muito frequentemente porque as condições do mar e dos próprios navios estão sujeitos a muitas imprevisibilidades", lembrou, garantindo que vão voltar a sair "tão breve quanto possível".
Sobre a possibilidade desta missão não conseguir chegar ao seu destino nem cumprir os objetivos a que se determinou, o ativista defendeu que isso só acontece porque "existe um cerco ilegal imposto pelas forças isrealitas à população palestiniana de Gaza".
"Desde 2008 que as flotilhas com destino a Gaza são capturadas pelas forças isrealitas e levadas ilegalmente para Israel", salientou.
No entanto, desta vez, estão "otimistas" e "confiantes", garantiu Miguel Duarte, uma vez que "nunca houve uma flotilha como esta, com tanta ajuda humanitária".
Na mesma entrevista, o ativista disse que sente "vergonha" do Governo português, por este ter dito que "não existe uma responsabilidade jurídica por parte do Estado português de proteção do navio ou dos seus tripulantes", mas que esta está "em linha com o que tem sido a sua ação".
Há três portugueses a bordo, mas Governo descarta responsabilidades
Na 'Flotilha Global Summud' estão três portugueses: a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, a ex-modelo Sofia Aparício e o ativista Miguel Duarte.
Apesar disso, o ministério dos Negócios Estrangeiros português disse, no sábado, 30 de agosto, que o Governo não tem qualquer responsabilidade na proteção dos portugueses que integram a frota humanitária.
"A participação na Global Sumud Flotilha consubstancia uma iniciativa autónoma da sociedade civil, que não tem qualquer vínculo ou vinculação ao Estado português", disse o órgão tutelado por Paulo Rangel, numa resposta ao jornal Observador sobre a missão.
O ministério recordou ainda que, "à luz do direito internacional, não existe uma responsabilidade jurídica por parte do Estado português de proteção do navio ou dos seus tripulantes".
O organismo ressalvou, contudo, que a proteção consular é "assegurada, se necessária, a todos os cidadãos portugueses no estrangeiro".
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