"Não vamos comprometer os interesses dos nossos agricultores, do nosso setor dos laticínios, dos nossos pescadores", afirmou Narendra Modi, num discurso proferido numa conferência em Nova Deli.
A declaração é vista como a primeira resposta pública de Modi à subida das tarifas aduaneiras decidida pelo Presidente dos Estados Unidos, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
"Sei que vou ter de pagar o preço pessoalmente, mas estou pronto", acrescentou, sem dar mais pormenores.
Washington anunciou na quarta-feira um aumento de 50% das sobretaxas aduaneiras sobre os produtos indianos importados, devido à compra de petróleo russo por Nova Deli.
A venda de petróleo é uma fonte de receitas fundamental para a Rússia, que enfrenta sanções ocidentais desde que iniciou a guerra contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Para Nova Deli, um dos principais pontos de discórdia é a exigência de Washington de acesso ao vasto mercado agrícola e de laticínios da Índia.
O Governo indiano está a tomar uma posição dura para defender o setor agrícola de mão-de-obra intensiva e para evitar perturbar os agricultores, um poderoso bloco eleitoral, segundo a AFP.
O executivo está também preocupado com a possibilidade de a importação de produtos lácteos poder ofender as sensibilidades culturais e religiosas da maioria hindu da Índia, que venera as vacas como animais sagrados.
A Índia recusou-se também a autorizar a importação de produtos geneticamente modificados.
Os Estados Unidos são o maior parceiro comercial da Índia, com Nova Deli a exportar 87,4 mil milhões de dólares (75,2 mil milhões de euros, ao câmbio atual) de mercadorias para o país.
As negociações entre a Índia e os Estados Unidos sobre as tarifas de Trump começaram sob auspícios promissores.
Em fevereiro, Trump descreveu Modi como um "negociador muito mais duro" do que ele próprio e afirmou que existia uma "ligação especial" entre ambos.
As sucessivas administrações norte-americanas têm visto a Índia, a nação mais populosa do mundo e a quinta maior economia, como um parceiro fundamental com interesses comuns face ao poder da China.
A Índia e a China são dois países rivais que há muito tempo lutam pela influência estratégica no sul da Ásia.
Os meios de comunicação social indianos noticiaram a possibilidade de Modi visitar a China no final de agosto, o que aconteceria pela primeira vez desde 2018, mas a informação não foi confirmada por nenhuma fonte oficial.
Modi e o Presidente chinês, Xi Jinping, encontraram-se pela última vez na Rússia em outubro de 2024.
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