"A partir de hoje, que é dia 21, podemos encerrar todas as sedes nacionais", disse aos jornalistas Samuel Faustino, representante do grupo de ex-combatentes, durante uma concentração em frente à sede da Renamo na Matola, província de Maputo.
Acrescentou que as sedes do partido nas províncias de Manica, Tete, Cabo Delgado, Inhambane e Zambézia permanecem encerradas, num protesto contra a liderança de Ossufo Momade, lamentando a falta de respostas da direção do partido: "não houve nada, nenhum pronunciamento".
Em 14 de julho, ex-guerrilheiros da Renamo anunciaram que pretendiam encerrar "em definitivo" as delegações em todo o país, por ainda não ter sido convocado um Conselho Nacional alargado, após semanas de silêncio da liderança do partido.
Os ex-combatentes asseguram que o encerramento das sedes decorre de forma pacífica, sem invasões, apenas colocando "novos cadeados" para impedir o funcionamento.
"Não há possibilidade de invasão [das sedes] porque não estão eles [os dirigentes]. Só vamos por a mostrar que tínhamos vindo aqui", acrescentou o porta-voz deste grupo, de cerca de 15 homens.
O grupo critica o presidente da Renamo que acusa de estar "ligado ao Governo da Frelimo", partido no poder, e de ter traído os ideais do partido.
"Ele está a afundar o partido desde 2018. Nós não somos bandidos, somos resistentes", declarou Samuel Fautino, visivelmente revoltado.
"O que queremos aqui é o Conselho Nacional alargado, só, mais nada", concluiu, sublinhando que este grupo vai continuar com o movimento até que haja uma resposta concreta da liderança.
A Renamo chegou a anunciar a realização do primeiro Conselho Nacional de 2025 - estatutariamente tem de organizar dois por ano - em 07 e 08 de março, que foi depois adiado, sem nova data. A direção do partido já reconheceu a obrigatoriedade de realizar dois conselhos nacionais por ano, mas afirma que não é obrigatório que aconteçam em semestres diferentes.
Tal como delegações e sedes em todo o país, nas últimas semanas, a sede nacional e o gabinete de Momade foram encerrados e ocupados por antigos guerrilheiros em protesto, entre 15 e 28 de maio, até serem retirados a tiro e gás lacrimogéneo pela Unidade de Intervenção Rápida, com mais de 50 desmobilizados a serem levados pela polícia moçambicana.
Os antigos guerrilheiros da Renamo apelaram anteriormente ao Governo, e à polícia, para que "não se intrometa nos assuntos internos do partido", alertando que qualquer interferência poderá levar a "atitudes menos desejadas".
Alvo das críticas dos antigos guerrilheiros, Ossufo Momade assumiu a presidência da Renamo em janeiro de 2019, após a morte de Afonso Dhlakama (1953 --2018), e foi reeleito para o cargo em maio de 2024, num processo fortemente contestado internamente.
A crise que se vive na Renamo é conduzida atualmente por antigos guerrilheiros que exigem a demissão de Ossufo Momade por alegada "má gestão", falta de pagamento de pensões e subsídios e falta do fundo de funcionamento da formação política.
A Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 09 de outubro de 2024, passando de 60 deputados, nas legislativas de 2019, para 28.
Momade foi candidato presidencial nas eleições de outubro de 2024, obtendo 6% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido, que foi a principal força de oposição em Moçambique desde as primeiras eleições em 1994.
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o exército governamental e a Renamo, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente, Joaquim Chissano, e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.
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