"Aprovámos um financiamento de 30 milhões de dólares (25,6 milhões de euros) para a Fundação Humanitária de Gaza. E apelamos aos outros países para que também apoiem a FHG e o seu trabalho essencial", declarou à imprensa Tommy Pigott, porta-voz adjunto do Departamento de Estado norte-americano.
A Fundação Humanitária de Gaza é atualmente a única entidade autorizada por Israel a entrar e distribuir ajuda humanitária na Faixa de Gaza, estando o acesso ao território vedado a todas as agências especializadas da ONU e organizações não-governamentais (ONG) de defesa dos direitos humanos e socorro em situações de emergência.
A situação da população daquele enclave palestiniano desde outubro de 2023 devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas agravou-se mais ainda pelo facto de a partir de 02 de março, e durante quase três meses, Israel ter impedido a entrada em Gaza de alimentos, água, medicamentos e combustível.
Alguns mantimentos estão agora a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que já várias vezes abriu fogo sobre civis palestinianos que tentavam obter comida, fazendo centenas de mortos e feridos.
A 30 de maio, o Departamento das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) considerou que Gaza é atualmente o lugar mais faminto do mundo, onde "100% da população corre o risco de morrer de fome".
Há muito que a ONU declarou a Faixa de Gaza como estando mergulhada numa grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica", a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio naquele território palestiniano e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.
Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para erradicar o movimento islamita palestiniano Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.
A guerra naquele território palestiniano fez, até agora mais de 56.000 mortos, na maioria civis, e de 131.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita retomou a ofensiva na Faixa de Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território, tendo o Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciado, no início de maio, um plano para "conquistar" Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.
Por isso, a maioria da população foi expulsa e está concentrada em três pontos dentro do enclave: Cidade de Gaza (norte), Deir al-Balah (centro) e Al-Mawasi, no sul, enquanto mais de 80% do território de Gaza está sob ordens de evacuação ou é considerada área militar, inacessível à população.
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