O governador republicano da Flórida Ron DeSantis indicou hoje que está a avaliar a construção do segundo centro num campo de treino da Guarda Nacional da Flórida, conhecido como Camp Blanding, cerca de 48 quilómetros a sudoeste de Jacksonville, no nordeste do estado.
Num evento em Tampa, DeSantis sublinhou a sua disponibilidade para ajudar o executivo do Presidente Donald Trump a atingir o seu objetivo de mais do que duplicar a capacidade de detenção de imigrantes das atuais 41.000 camas para pelo menos 100.000 camas em todo o país.
As autoridades estaduais afirmaram que a "Alcatraz dos Jacarés", centro que descreveram como temporário, contará com tendas e roulottes, permitindo ao estado adicionar 5.000 camas de detenção de imigrantes até ao início de julho e libertar espaço nas prisões locais.
"Acredito que a capacidade que será acrescentada ajudará na missão nacional geral. Também aliviará alguns fardos das nossas autoridades estaduais e locais", disse DeSantis.
Gerir a instalação custará aproximadamente 450 milhões de dólares por ano, segundo as autoridades, e as despesas serão suportadas pela Flórida e reembolsadas pela Agência Federal de Gestão de Emergências.
Aos olhos de DeSantis e de outras autoridades estaduais, o isolamento do aeródromo nos Everglades, rodeado de zonas húmidas repletas de mosquitos, cobras venenosas e jacarés, consideradas sagradas para as tribos nativas americanas, torna-o um local ideal para deter imigrantes ilegais.
"Claramente, do ponto de vista da segurança, se alguém escapar, sabem, há muitos jacarés", disse DeSantis.
"Ninguém vai a lado nenhum", adiantou o governador, que foi um dos principais rivais de Trump na nomeação presidencial pelo Partido Republicano em 2024.
O nome Alcatraz remete para a histórica prisão ao largo da cidade californiana de São Francisco, num rochedo no mar para onde foram durante décadas enviados alguns dos maiores criminosos do país.
Democratas e ativistas condenaram o plano como um espetáculo insensível e politicamente motivado.
"O que está a acontecer é muito preocupante, o nível de desumanização", disse Maria Asuncion Bilbao, coordenadora de campanha da Florida no grupo de defesa da imigração American Friends Service Committee.
"É como uma teatralização da crueldade", disse ela.
A organização Amigos dos Everglades, por sua vez, denunciou numa carta enviada ao governador da Florida "um risco inaceitável e desnecessário" para um ecossistema que alberga mais de 2.000 espécies de animais e vegetação.
Os activistas alertaram anteriormente para as condições num centro de detenção gerido pelo governo federal no sul da Florida, onde surgiram relatos de falta de água e alimentos, confinamento insalubre e negligência médica.
DeSantis está a contar com os poderes de emergência do estado para tomar posse da pista de aterragem do condado e construir o complexo, apesar das preocupações das autoridades do condado, ambientalistas e defensores dos direitos humanos.
O aeródromo dentro do Parque Nacional de Everglades é um ecossistema único da Florida, e segundo o procurador-geral do estado, James Uthmeier, terá capacidade para acomodar pelo menos mil imigrantes, numa área de aproximadamente 7.700 hectares.
Uthmeier afirmou num vídeo em que anunciou a infraestrutura que esta começará a abrigar imigrantes dentro de 30 a 60 dias após o início da construção.
Agora, o estado também está a considerar a construção de outro local num centro de treino da Guarda Nacional no nordeste da Flórida.
"Provavelmente também faremos algo semelhante em Camp Blanding", disse DeSantis, acrescentando que a Divisão de Gestão de Emergências da Flórida está "a trabalhar nisso".
A Flórida prepara-se entretanto para o que os meteorologistas alertaram que pode ser outra temporada de furacões excecionalmente violentos, levantando dúvidas sobre a capacidade de evacuar tais centros com milhares de detidos.
Trump já disse que começará a "eliminar gradualmente" a agência federal que responde a desastres após a temporada de furacões de 2025, uma mudança que provavelmente atribuirá mais responsabilidades aos estados para prestar apoio após as tempestades.
O Presidente norte-americano fez do combate à imigração ilegal uma prioridade máxima, referindo-se a uma "invasão" dos Estados Unidos por "criminosos do estrangeiro" e falando extensivamente sobre as deportações de imigrantes.
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