Os líderes da União Europeia (UE) vão, na quinta-feira em Bruxelas, debater a instabilidade no Médio Oriente, após o anúncio norte-americano de cessar-fogo entre Israel e Irão, admitindo que "tudo pode mudar" até ao final da semana.
Na quinta-feira, os chefes de Governo e de Estado da UE reúnem-se naquela que é a terceira reunião ordinária presidida pelo atual presidente do Conselho Europeu, António Costa, sendo à semelhança das anteriores muito marcada pela atualidade geopolítica, agora perante aparentes compromissos de conter a escalada militar entre Telavive e Teerão após bombardeamentos dos Estados Unidos em instalações nucleares iranianas.
Falando na antevisão desta cimeira (que pode durar apenas um dia ou prolongar-se até sexta-feira), um alto funcionário europeu apontou que "tudo pode mudar até lá", mas que a mensagem principal dos líderes da UE será de "necessidade urgente de conter a escalada" de tensões.
A UE defende que o Irão não deve ter armas nucleares e que a solução tem de ser diplomática e negociada.
As tensões no Médio Oriente têm vindo a intensificar-se nos últimos meses devido à deterioração da situação humanitária em Gaza devido à ofensiva israelita e à escalada militar entre Israel e Irão.
Após ataques israelitas em território iraniano e a consequente resposta de Teerão, chegou a temer-se um alastramento do conflito à região, com a diplomacia comunitária a apelar à contenção, ao respeito pelo direito internacional e à proteção dos civis.
Esta madrugada, os Estados Unidos anunciaram que ambas as partes aceitaram um cessar-fogo.
Quanto a Gaza, António Costa tem sido um dos líderes da UE mais vocais e, numa altura em que as operações israelitas já causaram mais de 55 mil mortos desde o ataque do grupo islamita Hamas em outubro de 2023, o antigo primeiro-ministro levará de novo o assunto ao Conselho Europeu.
Segundo um outro alto funcionário europeu, António Costa quer colocar o tema na agenda para pressionar Israel a acabar com a violência e a permitir a entrada de ajuda humanitária para aliviar a situação catastrófica, incluindo de fome, ao mesmo tempo que se exige que o Hamas liberte os restantes reféns.
Um documento da diplomacia comunitária, discutido na segunda-feira pelos ministros europeus dos Negócios Estrangeiros, admite indícios que Israel terá violado o acordo de associação com a UE, especificamente o artigo 2.º, sobre obrigações de respeitar os direitos humanos, com as suas ações em Gaza.
Esse relatório será discutido pelos líderes da UE na reunião do final da semana, quando alguns veem como "inaceitável o uso desproporcionado da força por parte de Israel", de acordo com as fontes diplomáticas ouvidas pela Lusa.
Segundo o mais recente rascunho das conclusões deste Conselho Europeu, texto que terá ainda de ser aprovado, os líderes da UE vão destacar "a situação humanitária catastrófica em Gaza e a perigosa escalada de tensões na sequência dos ataques israelitas ao Irão e da resposta iraniana".
Um outro conflito que será abordado pelos chefes de Governo e de Estado da UE diz respeito à guerra da Ucrânia causada pela invasão russa em fevereiro de 2022, com os líderes europeus a insistirem num apoio à paz abrangente e duradoura.
A discussão surge quando a UE quer avançar com um novo (o 18.º) pacote de sanções à Rússia e quando se deveria reconhecer os progressos feitos pela Ucrânia e a necessidade de avançar no processo de adesão - após o país ter obtido o estatuto de candidato ao bloco comunitário há três anos -, mas a Hungria continua a bloquear tais conclusões.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é esperado em Bruxelas na quinta-feira para dialogar com os líderes da UE logo no arranque da cimeira europeia.
António Costa preside desde 01 de dezembro passado a esta instituição que define as orientações políticas e as prioridades gerais da União Europeia, a instância política de mais alto nível da UE, sendo o primeiro português e socialista no cargo.
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