Este comportamento foi observado por uma equipa de investigadores que utilizou imagens de drones de uma comunidade de baleias que vivem no Mar Salish (noroeste dos Estados Unidos) e que publicaram os seus resultados na revista Current Biology.
As baleias arrancam a extremidade de um talo de alga, colocam-no entre si e os seus parceiros e rolam-no entre os seus corpos durante longos períodos de tempo.
"Ficámos espantados quando observámos este comportamento pela primeira vez", afirmou o investigador Michael Weiss, do Center for Whale Research (CWR), sediado nos EUA, que realizou o estudo em colaboração com a Universidade de Exeter, no Reino Unido.
Até agora, sabia-se que várias espécies de baleias moviam as algas com a cabeça, as barbatanas e o corpo, provavelmente para brincar ou para remover parasitas e manter a pele saudável, mas o comportamento observado agora com as orcas é diferente.
Designado pelos investigadores como 'allokelping', as baleias selecionam e aparam as algas, como uma "ferramenta" deliberadamente fabricada para utilização futura, e depois utilizada por indivíduos que trabalham em conjunto.
Os investigadores ficaram surpreendidos com a generalização deste comportamento, uma vez que os machos e as fêmeas de todas as fases da vida utilizam as algas desta forma e têm mais probabilidades de formar pares com parentes maternos próximos de idade semelhante.
"Tudo indica que esta é uma parte importante da sua vida social", disse Weiss.
Durante oito dos 12 dias incluídos no estudo, as baleias foram observadas a fazer allokelping, e os investigadores acreditam que este comportamento pode ser universal nesta população.
Quanto às possíveis causas por detrás deste comportamento, o investigador Darren Croft, da Universidade de Exeter, observou que as orcas entram frequentemente em contacto com outros membros do seu grupo, tocando-se com os seus corpos e barbatanas, "mas a utilização de algas como estas poderia melhorar esta experiência".
As baleias e os golfinhos têm várias estratégias para se livrarem da pele morta, e esta pode ser outra adaptação para este fim, visto que as algas castanhas têm propriedades antibacterianas e anti-inflamatórias que podem ser benéficas para as baleias.
Já se sabe que outras orcas esfregam o corpo em praias de pedra lisa, possivelmente para remover a pele morta e os parasitas, mas as orcas deste grupo não foram vistas a fazer isto.
A população ameaçada de baleias do Mar de Salish tem sido estudada há 50 anos, com apenas 73 baleias contadas no último censo da CWR em julho de 2024.
Embora existam outras orcas em todo o mundo, este grupo do Mar Salish representa uma população genética, ecológica e culturalmente distinta, afirmou Weiss.
A prática do 'allokelping' é mais uma prova da singularidade deste grupo de orcas e, com o seu desaparecimento, não só se perderiam 73 animais ou uma linhagem genética, mas também "uma sociedade complexa e um conjunto profundo e único de tradições culturais", disse Croft.
Os resultados deste estudo, segundo Croft, destacam uma ameaça potencial adicional à sobrevivência futura destas orcas, uma vez que as florestas de 'kelp' onde selecionam os seus utensílios de higiene estão em declínio devido ao aumento da temperatura dos oceanos associado ao aquecimento global.
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