Estes são alguns pontos essenciais do caso judicial que envolve dois dos homens de maior confiança de Sánchez no partido, assim como do debate político em curso em Espanha:
As suspeitas de corrupção e os protagonistas
A justiça espanhola anunciou na quinta-feira passada haver "indícios consistentes" de corrupção contra o então 'número três' do PSOE e deputado Santos Cerdán.
O Tribunal Supremo de Espanha disse, em comunicado, que na sequência de um relatório de uma investigação policial a um antigo ministro dos Transportes de Sánchez (José Luis Ábalos), a justiça concluiu haver também "indícios consistentes" contra Santos Cerdán, por suspeita de negociação de comissões de pelo menos 620 mil euros na adjudicação de obras públicas.
Ábalos foi ministro entre 2018 e 2021. Santos Cerdán era o 'número três' do PSOE desde 2017, quando sucedeu no cargo a Ábalos. Os dois foram os maiores e mais reconhecidos apoiantes de Sánchez nas primárias do PSOE de 2014 e no caminho que depois o levou a liderar o Governo pela primeira vez, em 2018.
Cerdán foi também o homem que negociou com os independentistas catalães a amnistia que assegurou a reeleição de Sánchez como primeiro-ministro em 2023.
Um caso especialmente delicado para Sánchez
Sánchez chegou a primeiro-ministro em 2018 ao conseguir apoios suficientes para fazer aprovar uma moção de censura ao Governo do Partido Popular (PP, direita) liderado por Mariano Rajoy.
A moção mobilizou diversos partidos, de quadrantes distintos, e teve como fundamento derrubar um Governo envolto em vários casos de corrupção, incluindo financiamento ilegal do PP, confirmados já então com sentenças de tribunais.
A moção de censura liderada por Sánchez foi então defendida no parlamento por José Luis Ábalos e a promessa foi a da "regeneração democrática" e de combate à corrupção.
Outros casos sob suspeita
Primeiro-ministro desde 2018, Sánchez voltou a ser eleito para o cargo pelo parlamento espanhol em novembro de 2023, por uma geringonça de oito partidos.
Desde que foi reinvestido, pessoas próximas do primeiro-ministro, como a mulher ou o irmão, e antigos membros do Governo e da direção PSOE, foram envolvidos em processos judiciais por suspeitas de corrupção.
Até agora, Sánchez e a direção do PSOE tinham negado qualquer acusação e atribuíram os sucessivos casos a manipulações e a campanhas de desinformação e 'fake news' alimentadas pela oposição de direita e extrema-direita.
Na quinta-feira, Pedro Sánchez não usou estes argumentos pela primeira vez, reconheceu haver "indícios muito graves" de corrupção envolvendo o então 'número três' do PSOE e pediu desculpa e perdão aos espanhóis e aos militantes do partido.
O líder do PSOE disse que com "respostas contundentes", como a desta quinta-feira, em que exigiu a demissão de Santos Cerdán, faz a diferenciação entre "supostos casos e outros" que têm "efetivamente indícios que os corroboram".
Nem eleições antecipadas, nem moção de confiança
Sánchez já disse por duas vezes, desde quinta-feira, que não se vai demitir, nem convocar eleições antecipadas nem submeter-se a uma moção de confiança no parlamento, defendendo que esta crise afeta o partido, mas não o Governo.
O líder do Governo garantiu que, no entanto, o PSOE é "uma organização limpa", que submete as contas a auditorias externas independentes e ao Tribunal de Contas. Realçou ainda que não há suspeitas, no relatório policial da semana passada, de financiamento ilegal do partido.
Para já, a geringonça que o reelegeu limitou-se também a pedir mais explicações e medidas "contundentes" contra a corrupção no PSOE, mas não lhe retirou o apoio e os partidos têm dito que não vão contribuir para a eleição de um Governo de direita e extrema-direita em Espanha.
Quanto às estruturas do PSOE, os meios de comunicação garantem que 'pesos pesados', sem citar nomes, pedem, pelo menos, uma moção de confiança e/ou eleições antecipadas.
Partido Popular rejeita moção de censura
O Partido Popular (PP, direita), que lidera a oposição, tem dito que há "uma máfia" à frente do Governo e do PSOE, tem pedido a Sánchez para se demitir, mas rejeita avançar com uma moção de censura, para já.
O argumento do PP é que neste momento não tem apoios suficientes para fazer aprovar uma moção de censura e se avançasse e fosse 'chumbada', acabaria por relegitimar Sánchez como primeiro-ministro e dar-lhe "um balão de oxigénio".
Em Espanha, o chefe de Estado, o Rei, não tem poder para dissolver o parlamento a meio da legislatura, o que só poderia acontecer por decisão do próprio executivo.
Por outro lado, o Governo só pode cair com uma moção de censura, cuja aprovação elege primeiro-ministro, de forma automática, o nome indicado no documento para chefiar o executivo, sem dar lugar à dissolução do parlamento e a eleições.
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