A Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) anunciou quarta-feira, durante uma conferência de imprensa, que o partido no poder tinha conquistado 96,5% dos votos e todas as cadeiras eleitas na Assembleia Nacional.
O partido no poder também conquistou quase todas as cadeiras nas eleições municipais. Segundo a HRW, funcionários e jovens do partido no poder intimidaram, assediaram e ameaçaram a população e censuraram a cobertura mediática para garantir uma vitória esmagadora.
"Os burundianos votaram numa atmosfera desprovida de verdadeira competição política, à medida que o partido no poder consolidava ainda mais o seu poder", afirmou Clémentine de Montjoye, investigadora sénior da Human Rights Watch para a região dos Grandes Lagos.
Segundo Montjoye, "a democracia do Burundi foi esvaziada, com um partido no poder que não presta contas ao seu povo e não está disposto a tolerar a dissidência, mesmo com o agravamento da situação económica".
"Sem uma oposição credível, esta eleição apenas consolida ainda mais o regime autoritário e empurra os burundianos para uma crise de governação profundamente enraizada", conclui a investigadora da Human Rights Watch.
O Conselho Nacional para a Defesa da Democracia-Forças para a Defesa da Democracia (CNDD--FDD), no poder desde 2005, tem procurado desmantelar toda a oposição significativa, incluindo a do seu principal rival, o Congresso Nacional para a Liberdade (CNL), refere a HRW, considerando que "vários partidos da oposição, incluindo o CNL, o Conselho dos Patriotas (CDP) e a União para o Progresso Nacional (UPRONA) denunciaram irregularidades na votação".
As eleições para o Senado e outras eleições locais estão agendadas para 23 de julho e 25 de agosto, respetivamente, e as próximas eleições presidenciais serão em 2027.
A HRW disse que os burundianos sentem uma frustração crescente com a governação do partido no poder, numa altura em que a população enfrenta uma taxa de inflação anual de 40%, escassez crónica, discrepâncias significativas entre as taxas de câmbio oficiais e não oficiais, reservas limitadas de moeda estrangeira e uma crise de combustível que há anos paralisa os transportes.
Por outro lado, segundo o comunicado, o conflito crescente na vizinha República Democrática do Congo (RDCongo), que comprometeu o comércio transfronteiriço e provocou a chegada de mais de 70.000 refugiados e requerentes de asilo desde janeiro de 2025, bem como os cortes no financiamento dos doadores, agravaram ainda mais a situação.
Em fevereiro, as autoridades do Burundi expulsaram do país o diretor e o responsável pela segurança do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, depois de terem alegadamente aconselhado os funcionários a abastecerem-se de bens essenciais.
O Presidente, Evariste Ndayishimiye, assumiu as rédeas do Burundi em junho de 2020, após a morte do antecessor, Pierre Nkurunziza, que governara o país com mão de ferro durante 15 anos.
Desde a sua chegada ao poder, tem oscilado entre sinais de abertura do regime, que permanece sob o domínio de poderosos generais, e um controlo firme do poder, marcado por violações dos direitos humanos denunciadas por organizações não-governamentais e pela ONU.
O Burundi é o país mais pobre do mundo em termos de PIB 'per capita', de acordo com uma classificação do Banco Mundial de 2023, que acrescenta que 75% dos 12 milhões de habitantes vivem abaixo do limiar de pobreza internacional.
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