"O Irão é uma potência nuclear porque, com base na capacidade que temos, somos uma potência nuclear em capacidade, mas não somos potência nuclear em essência, nem como potência nuclear em termos de produção", afirmou Majid Tafreshi, numa entrevista à agência Lusa.
Questionado sobre se esse conhecimento já permite a Teerão dotar-se de armas nucleares, Tafreshi respondeu que falar de bombas "não faz parte da política iraniana" e que muito do que se fala "é propaganda" vinda dos Estados Unidos e de Israel.
"Não, bombas não estão na nossa política. Isso é propaganda. Se eles têm ter bombas, deveriam primeiro trabalhar na zona livre de armas nucleares no Médio Oriente. Esse acordo, essa resolução, já foi aprovado pela AIEA [Agência Internacional de Energia Atómica] há 20 anos", afirmou o diplomata iraniano.
Instado sobre se pode garantir que o enriquecimento de urânio em curso no Irão se destina a objetivos civis e não militares, Tafreshi lembrou, ironizando, que a questão já tem cerca de 30 anos, e que a "propaganda" passa por "criar falsas ameaças" para que se possa justificar uma presença na região.
"Porque não podemos ter uma zona livre de armas nucleares no Médio Oriente? É por causa de Israel. Ninguém em Israel precisa de uma arma dessas. Eles vão usar o Egito ou a Síria? Onde?", questionou Tafreshi.
Para o diplomata iraniano, mesmo durante o pós-guerra com o Iraque (Guerra entre 1980 e 1988), o Irão "sofreu muito com armas químicas doadas por alguns países ocidentais" ao então presidente iraquiano, Saddam Hussein, mas nunca retaliou.
"Há uma hegemonia dos 'media' ocidentais contra nós. Mas, de todas essas histórias, pode-se traçar a realidade através da mente das pessoas de mente aberta. Vocês são jornalistas. Venham ao Irão e conversem com o povo para ver a nossa evolução desde a revolução islâmica de 1979, que pôs termo ao regime pró-ocidental do xá Reza Pahlavi", afirmou.
Mais a mais, prosseguiu, o Irão vive praticamente sob as sanções económicas ocidentais, apoiadas por Washington, razão pela qual Teerão faz acordos de cooperação para uma competição "mais justa" entre a China e Rússia e, porque não, com os Estados Unidos.
"A Europa e até a Ucrânia foram um bom exemplo de quanto custa. Então, para se livrar de qualquer tensão, acredito que ambos os lados precisam de se aproximar mais. Há a Política Externa Europeia de Vizinhança. Então, essa política externa pode ser expandida para o Irão. O benefício não é muito menor mas os custos do abuso de poder aumentam dia a dia, muito mais do que antes", argumentou.
Sobre as negociações em curso com os Estados Unidos acerca do programa nuclear iraniano, Tafreshi lembrou que no primeiro mandato do atual Presidente norte-americano, Donald Trump (2017/21), Washington decidiu unilateralmente, em 2018, abandonar a Comissão Conjunta do Plano de Ação Global (JCPOA), que envolvia também a China, França, Rússia, Reino Unido e Alemanha e limitava o programa nuclear do Irão em troca do levantamento das sanções económicas.
Desde que regressou à Presidência, em janeiro, Trump apelou ao Irão para negociar um novo texto, mas ameaçou bombardear o país se a diplomacia falhasse.
"Este acordo já foi feito. Todos sabem que o Irão está num mundo pacífico. Mas a AIEA está sob forte pressão de alguns países ocidentais. E até mesmo a contribuição voluntária para a AIEA serve para alguma coisa. Não é bom. Precisamos de nos concentrar no que a AIEA disse. É muito ridículo. O que você já reconhece como um privilégio no estatuto da AIEA de há mais de seis anos", afirmou Tafreshi.
"A AIEA sempre esteve sob pressão, porque muitas empresas, muitas entidades que ajudam financeiramente. Elas têm milhões de dólares. Mas sempre sob pressão do conselho de governadores, onde nunca entramos. É ridículo. Esta não é uma entidade boa e genuína. A AIEA deve respeitar todos os seus membros", concluiu.
Um relatório da AIEA, divulgado a 31 de maio, revelou que o Irão aumentou a produção de urânio enriquecido a 60%, um nível próximo dos 90% necessários para fabricar armas atómicas.
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