"Esse processo deve ser concluído no âmbito de negociações entre Israel e os palestinianos antes de podermos reconhecer um Estado palestiniano, e pensamos que o reconhecimento do Estado palestiniano neste momento seria um sinal errado", declarou Johann Wadephul, numa conferência de imprensa em Berlim com o homólogo israelita, Gideon Saar.
O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) alemão referia-se à atual situação na Faixa de Gaza, onde está em curso uma guerra de retaliação a um ataque do movimento islamita palestiniano Hamas desde 07 de outubro de 2023 que já fez quase 55.000 mortos, na maioria civis, e pelo menos 125.000 feridos.
Vive-se no enclave palestiniano uma crise humanitária aguda, considerando a ONU que 100% da população está em risco de morrer de fome, porque Israel só deixa entrar ajuda humanitária a conta-gotas, após quase três meses de bloqueio, e o Exército israelita está a matar a tiro civis que tentam chegar aos poucos pontos de distribuição de alimentos autorizados, segundo os relatos das autoridades locais.
Além disso, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou, no início de maio, um plano para "conquistar" aquele território, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.
"Estamos também a tornar clara para os nossos parceiros e amigos europeus" esta posição da Alemanha, acrescentou o MNE alemão.
Vários países europeus, entre os quais Espanha, Irlanda e Noruega, já reconheceram a existência de um Estado palestiniano.
França, o Reino Unido e o Canadá também anunciaram recentemente que estão a considerar essa possibilidade, perante a intensificação da ofensiva israelita na Faixa de Gaza e o bloqueio da ajuda humanitária.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu em Singapura, no final de maio, que o reconhecimento do Estado palestiniano "não é apenas um dever moral, mas uma exigência política".
Israel enfrenta uma pressão internacional crescente para pôr fim à guerra, perante "imagens chocantes" de Gaza que mostram quão "insuficiente" está a ser a ajuda humanitária, declarou hoje Wadephul, referindo-se à única entidade que agora a distribui, a Fundação Humanitária de Gaza (FHG), apoiada pelos Estados Unidos.
"É por isso que, durante a nossa reunião de hoje, reiterei o meu pedido urgente para autorizar a entrega de ajuda humanitária a Gaza, de acordo com os princípios de humanidade, imparcialidade, neutralidade e independência, e sem restrições", afirmou.
"Não se trata apenas de um imperativo humanitário, mas também do Direito Internacional vigente", insistiu.
O chefe da diplomacia alemã lamentou igualmente a recente decisão do Governo israelita de autorizar a construção de mais 22 colonatos na Cisjordânia, depois de a ONU reiterar que todos eles são ilegais à luz do Direito Internacional.
"Mesmo como amigos [de Israel], não podemos fechar os olhos a esta situação. E devo dizer que rejeitamos tal decisão, porque a política de colonatos é contrária ao Direito Internacional", vincou.
Ações como esta reduzem as hipóteses de uma "solução de dois Estados", defendida por Berlim.
"Precisamos do apoio da Alemanha neste momento difícil. Israel enfrenta um ataque militar, jurídico, diplomático e económico", afirmou, por sua vez, o MNE israelita.
Apesar de a Alemanha ser um dos mais fiéis apoiantes do Estado hebreu, devido à sua responsabilidade no Holocausto, há uma semana, o chanceler, Friedrich Merz, ameaçou Benjamin Netanyahu de que deixaria de apoiar o seu país, por causa da catástrofe humanitária em curso nos territórios palestinianos.
Hoje, dezenas de manifestantes protestaram em Berlim, em frente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, por ocasião da visita de Gideon Saar.
Os participantes brandiram bandeiras palestinianas e empunhavam cartazes, nos quais podia ler-se: "Nenhum apoio aos crimes de guerra em Gaza" e "Fim ao fornecimento de armamento" a Israel.
[Notícia atualizada às 16h15]
Leia Também: Mísseis de longo alcance? MNE alemão desdramatiza críticas russas