"Macron quer recompensar [Hamas] dando-lhes um Estado palestiniano"

Israel acusou hoje o Presidente francês, Emmanuel Macron, de estar numa "cruzada contra o Estado judaico", após este apelar para uma posição mais dura da comunidade internacional, se a situação humanitária em Gaza não melhorar.

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© RONEN ZVULUN/POOL/AFP via Getty Images

Lusa
30/05/2025 16:08 ‧ ontem por Lusa

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Médio Oriente

"Não existe qualquer bloqueio humanitário. Isso é uma mentira descarada", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita num comunicado, defendendo os seus esforços para permitir a entrada e distribuição de ajuda no território palestiniano.

 

"Mas em vez de pressionar os terroristas 'jihadistas' [do movimento islamita palestiniano Hamas], Macron quer recompensá-los dando-lhes um Estado palestiniano. Não há dúvida de que o seu feriado nacional será a 07 de outubro", acrescentou, referindo-se ao dia 07 de outubro de 2023, o dia do ataque sem precedentes do Hamas a Israel, que desencadeou, horas depois, a guerra na Faixa de Gaza.

Pouco antes, durante uma visita a Singapura, Macron declarou que o reconhecimento de um Estado palestiniano é "não apenas um dever moral, mas uma exigência política", enumerando uma série de condições para dar esse passo, antes de uma conferência da ONU sobre o assunto, na qual deverá participar a 18 de junho.

Em seguida, num discurso proferido no fórum de defesa Diálogo de Shangri-La, em Singapura, o chede de Estado francês afirmou que se o Ocidente "abandonar Gaza" e "deixar Israel fazer o que quiser", se arrisca a "perder toda a credibilidade perante o resto do mundo".

"É por isso que rejeitamos dois pesos e duas medidas", sublinhou Macron, insistindo que o mesmo se aplica à guerra da Rússia na Ucrânia.

O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, desafiou hoje abertamente o Presidente francês e a ONU, ao afirmar que não está em causa a criação de um Estado palestiniano na Cisjordânia, território palestiniano ocupado por Israel desde 1967 e onde este pretende "construir o Estado judaico".

Katz sublinhou que se tratava de "uma mensagem clara" dirigida a Emmanuel Macron, acusado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita de estar numa "cruzada contra o Estado judaico".

A declaração de Katz surge um dia depois de o Governo israelita ter anunciado um grande plano de expansão dos colonatos judeus na Cisjordânia, logo condenado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que apelou a Israel para "cessar toda a atividade de colonização", que é "ilegal e um obstáculo à paz" na região.

Os colonatos israelitas na Cisjordânia, considerados um dos principais obstáculos a uma paz duradoura, são regularmente condenados pelas Nações Unidas, por serem ilegais à luz do Direito Internacional, e o anúncio de quinta-feira suscitou fortes críticas de países estrangeiros.

Numa visita ao posto avançado do colonato de Sa-Nur, no norte da Cisjordânia, Katz afirmou que o Governo israelita tencionava elevá-lo ao estatuto de município autónomo, de acordo com o plano anunciado no dia anterior.

Sa-Nur é um antigo colonato desmantelado por Israel em 2005, no âmbito do plano de retirada unilateral da Faixa de Gaza do então primeiro-ministro, Ariel Sharon.

"Esta é uma resposta decisiva às organizações terroristas que estão a tentar prejudicar e enfraquecer o nosso domínio sobre esta terra", disse Katz, num vídeo hoje divulgado pelo seu gabinete.

"É uma mensagem clara para [o Presidente francês, Emmanuel] Macron e os seus amigos: eles vão reconhecer um Estado palestiniano no papel, e nós vamos construir aqui o Estado judeu israelita no terreno", sublinhou o chefe da diplomacia israelita, acrescentando: "O papel será atirado para o caixote do lixo da história e o Estado de Israel vai prosperar e florescer".

Em retaliação ao ataque do Hamas em Israel, que fez cerca de 1.200 mortos e 251 reféns, a guerra na Faixa de Gaza fez, até agora, mais de 54.000 mortos, na maioria civis, e mais de 123.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

A situação da população daquele enclave devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas agravou-se mais ainda pelo facto de a partir de 02 de março, e durante quase três meses, Israel ter impedido a entrada em Gaza de alimentos, água, medicamentos e combustível, que estão desde a semana passada a entrar a conta-gotas.

Hoje, a agência da ONU que coordena os assuntos humanitários considerou que Gaza é atualmente o lugar mais faminto do mundo, onde "100% da população corre o risco de morrer de fome".

No final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio naquele território palestiniano e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.

Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita retomou a ofensiva na Faixa de Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território, tendo o Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciado, no início de maio, um plano para "conquistar" Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.

Por isso, a maioria da população foi expulsa e está concentrada em três pontos dentro do enclave: Cidade de Gaza (norte), a área central de Deir al-Balah e al-Mawasi, no sul, enquanto mais de 80% do território de Gaza está sob ordens de evacuação ou é considerada área militar, inacessível à população.

Leia Também: Carta-branca a Israel? "Estaremos a arruinar a nossa credibilidade"

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