O governo tinha apresentado uma queixa contra Lilian Moreno por prevaricação e desobediência judicial depois de, quarta-feira passada, ter emitido uma decisão a favor de Morales, embora esta tenha sido anulada dois dias depois por ordem de outro juiz.
Moreno foi detida hoje no município de La Guardia por volta das 07:00 locais (12:00 em Lisboa) quando se dirigia ao Palácio da Justiça em Santa Cruz.
Espera-se que seja transferida para a sede do governo em La Paz nas próximas horas, informou a agência de notícias da Bolívia, ABI, que adiantou que se aguardam mais pormenores sobre as acusações pelas quais Moreno foi detida.
Nas últimas horas, o ex-presidente Morales usou as redes sociais para denunciar o "terrorismo de Estado" exercido pelo atual governo de Luis Arce.
"Não procuram justiça, mas uma vingança brutal. Há já algum tempo que denuncio que, na Bolívia, com o atual governo, não há Estado de direito. Aqui impera o terrorismo de Estado, que difama, persegue e prende os bolivianos que pensam diferente", escreveu Morales, presidente entre 2006 e 2019, na rede social X.
O ex-presidente afirmou que estão a ser utilizadas operações "típicas das ditaduras", nas quais "nem sequer são respeitados os juízes de Direito Constitucional, que apenas procuram o respeito pelo devido processo legal".
Morales apelou também à ação dos organismos internacionais face ao que considerou "o desrespeito do governo pelos direitos humanos e constitucionais contra os seus cidadãos indefesos, que são permanentemente perseguidos e ameaçados".
Na semana passada, a equipa de defesa de Morales anunciou a ordem constitucional emitida por Moreno, que anulou o mandado de captura contra o antigo presidente, bem como a transferência do julgamento para o município de Cochabamba, no centro do país e também o seu principal reduto político e sindical.
A decisão da juíza foi questionada pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça (TSJ), Romer Saucedo, enquanto o Conselho da Magistratura anunciou o início de uma investigação.
Na sexta-feira, foi emitida uma nova decisão judicial, desta vez assinada pelo juiz Franz Zabaleta, de La Paz, que ordenou que o mandado de captura contra Morales permanecesse ativo.
A decisão de Zabaleta estabelece que "como medida de precaução, é ordenada a suspensão temporária da execução de qualquer determinação adotada" no caso.
Primeiro chefe de Estado boliviano de origem indígena, Evo Morales, é acusado de tráfico de uma menor devido a um suposto acordo feito com os pais.
A Procuradoria afirmou que, em 2015, Morales teve um relacionamento com uma jovem de 15 anos, da qual nasceu uma filha, um ano depois, com o consentimento dos pais em troca de benefícios.
Morales rejeitou sempre as acusações e lembrou que um inquérito sobre os mesmos alegados factos foi arquivado em 2020, sublinhando ser vítima de "perseguição judicial" por parte do Governo do Presidente Luis Arce, antigo ministro da Economia na equipa de Morales.
Evo Morales quer regressar ao poder apesar de uma decisão do Tribunal Constitucional ter confirmado, no final de 2024, que um presidente não pode exercer mais de dois mandatos.
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