"O direito de votar nas eleições locais será revogado para os cidadãos de países terceiros residentes na Estónia", de acordo com uma declaração parlamentar.
Esta medida, se receber luz verde do Presidente estónio, Alar Caris, afetará 80.000 cidadãos russos residentes no país.
A votação responde às crescentes preocupações de segurança na Estónia desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Várias forças políticas estónias propuseram excluir das eleições cidadãos da Rússia e da Bielorrússia, aliada de Moscovo, bem como apátridas que vivem na Estónia, por temerem interferências estrangeiras.
"Se a Rússia tivesse sido, do nosso ponto de vista, sensata, ninguém teria iniciado isto", comentou Rein Toomla, especialista político do Instituto Johan Skytte, citado pela agência France-Presse (AFP).
"Isto é claramente [um movimento] contra a Rússia e, de certa forma, os cidadãos russos que vivem na Estónia são vítimas porque a Rússia agiu desta forma, não eles", prosseguiu.
Quase 80.000 cidadãos russos e quase 60.000 apátridas estão registados na Estónia, uma antiga república soviética com uma população de 1,3 milhões de habitantes, que recuperou a sua independência em 1991 e que faz fronteira com a Rússia.
Os residentes permanentes têm atualmente o direito constitucional de votar nas eleições locais, mas não nas parlamentares.
As relações entre Moscovo e os três países bálticos -- Estónia, Letónia e Lituânia - têm vindo a deteriorar-se num clima de tensões crescentes entre a Rússia e o Ocidente, agravadas pela invasão em grande escala da Ucrânia.
Tanto a Estónia como a Letónia possuem grandes minorias russófonas que, por vezes, permanecem em desacordo com os seus governos nacionais, levantando preocupações de que Moscovo possa tentar explorar estas diferenças para ações de desestabilização destes países membros da UE e da NATO.
A Estónia anunciou este mês que iria aumentar as suas despesas com a defesa no próximo ano para pelo menos 5% do PIB (produto interno bruto), justificando com a ameaça que a vizinha Rússia representava.
"A Rússia não alterou os seus objetivos e ambições imperialistas. É uma ameaça real tanto para a Europa como para a NATO", alertou o primeiro-ministro, Kristen Michal, que disse ser "lógico que se uma pessoa quer ser cidadã da Rússia (...), não deve esperar participar em discussões sobre a Estónia".
O debate sobre o direito ao voto é apenas o mais recente de uma série de atos que simbolizam o corte de laços com Moscovo.
Em particular, os Estados bálticos decidiram, em resposta à invasão russa da Ucrânia, remover e demolir certos monumentos da era soviética em memória dos combatentes.
Quando a Estónia reconquistou a independência da União Soviética, em 1991, cerca de um terço dos seus habitantes eram falantes de russo, cujas famílias tinham emigrado de outras repúblicas soviéticas, mas não receberam a cidadania devido à ausência de laços de sangue.
Para obter a cidadania deste país, é também necessário passar por um teste de conhecimentos da língua estónia.
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