Os últimos dados da organização não-governamental, sediada no Reino Unido com uma vasta rede de colaboradores na Síria, dava conta de mais de 90 mortes, referindo-se a execuções documentadas em imagens.
A violência, sem precedentes desde a queda do ex-Presidente Assad, fez um total de 231 mortos desde quinta-feira, de acordo com um novo balanço do OSDH.
Uma fonte de segurança citada pela agência oficial síria Sana relatou "atrocidades isoladas" cometidas por "multidões desorganizadas" em retaliação pelo assassínio de vários membros da polícia e das forças de segurança por homens leais ao antigo regime.
"Estamos a trabalhar para pôr fim a estes abusos que não representam todo o povo sírio", disse a fonte do Ministério do Interior.
De acordo com o OSDH, as vítimas pertenciam ao grupo étnico-religioso minoritário alauita de al-Assad, que fugiu para a Rússia em 08 de dezembro de 2024, após uma operação militar de uma coligação rebelde.
Os ataques na região começaram na quinta-feira e continuaram hoje, marcando a pior fase de violência desde a mudança do regime, agora controlado pelos antigos rebeldes da Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS), que tem como principal missão a pacificação de um país dilacerado por quase 14 anos de guerra civil.
Os confrontos mais recentes começaram quando as forças governamentais tentaram deter uma pessoa procurada perto da cidade costeira de Jableh na quinta-feira e foram emboscadas por apoiantes de Assad.
Na quinta e hoje, homens armados das novas forças sírias invadiram as aldeias de Sheer, Mukhtariyeh e Haffah, junto da costa, matando dezenas de pessoas.
"Mataram todos os homens que encontraram", disse o líder do Observatório, Rami Abdurrahman.
Durante a última noite, Damasco enviou reforços para as cidades costeiras de Latakia e Tartus e para as aldeias próximas que albergam os grupos minoritários alauitas e constituem a base de apoio de Assad há longa data.
Um recolher obrigatório mantém-se em vigor até sábado em Latakia e noutras zonas costeiras.
A Turquia, que apoiou a oposição armada contra Assad, criticou hoje qualquer provocação que ameace a paz "na Síria e na região" após os violentos confrontos.
"As tensões dentro e à volta de Latakia e o ataque às forças de segurança podem comprometer os esforços para levar a Síria à unidade e à fraternidade (...) Esta provocações podem tornar-se numa ameaça à paz na Síria e na região", advertiu a diplomacia de Ancara.
A Turquia, que apoia o governo interino em Damasco, tem ainda vários milhares de soldados destacados em território sírio.
A diplomacia da Rússia, que apoiava o regime de Assad e que acolhe atualmente o antigo Presidente sírio, também pediu hoje a redução da tensão.
"Apelamos a todos os líderes sírios que possam ter influência (...) para que façam tudo para impedir um banho de sangue", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em comunicado, dizendo estar pronto para "coordenar esforços" com parceiros estrangeiros.
O Irão, outro antigo aliado de Bashar al-Assad, comentou por seu lado que se opõe à morte de "sírios inocentes".
A Arábia Saudita condenou a violência de "grupos desonestos", bem como "os crimes cometidos por grupos ilegais na República Árabe Síria e os ataques às forças de segurança".
A diplomacia de Riade reafirmou em comunicado o seu "apoio ao Governo sírio nos seus esforços para manter a segurança e a estabilidade e preservar a paz civil".
A Jordânia, que faz fronteira com a Síria e que acolheu largos milhares de refugiados durante a guerra civil, também já lamentou a violência que eclodiu no país vizinho.
Anteriormente, o enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, já se tinha declarado "profundamente alarmado" com os confrontos mortais nas zonas costeiras do país, pedindo a todas as partes que "exerçam moderação".
Pedersen mostrou-se "profundamente alarmado com os relatos de intensos confrontos e assassinatos nas zonas costeiras, incluindo entre forças da Autoridade Interina Síria e elementos leais ao antigo regime, bem como com os relatos muito perturbadores de vítimas civis", refere um comunicado das Nações Unidas.
"Todas as partes devem abster-se de quaisquer ações que possam alimentar tensões, intensificar o conflito, agravar o sofrimento das comunidades afetadas, desestabilizar a Síria e prejudicar uma transição política fiável e inclusiva", defendeu Pedersen.
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