O presidente do Conselho Europeu, António Costa, deu, esta quarta-feira uma entrevista durante a qual falou de vários temas, nomeadamente, em relação a Elon Musk ou mesmo às tarifas que o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deverá impor e a forma como a União Europeia (UE) está preparada para reagir. Em Bruxelas, na Bélgica, também a eventual subida no investimento da Defesa foi abordada, e António Costa foi questionado ainda acerca de temas nacionais, onde escolheu ser mais reservado.
Uma das questões abordadas 'por cá', foi a Operação Influencer, tendo Costa considerado que "esse é um assunto que já está ultrapassado".
"O que mudou foram duas decisões judiciais, foi a clarificação do que estava em discussão, foi aquilo que eu senti quando fui ouvido a meu pedido pelo Ministério Público", disse, referindo-se ainda à avaliação dos 27 chefes de Estado e do Governo com assento no Parlamento Europeu sobre as suas "capacidades, qualidades e condições para desempenhar" o cargo.
O antigo chefe de Governo português, que saiu do cargo no âmbito do seu nome ter sido envolvido na operação em causa, foi ainda confrontado com a forma como jornais como o Financial Times ou o Politico falaram de Costa quando ele assumiu o cargo em Bruxelas. A imprensa referiu-se a Costa como pertencente a uma minoria étnica. Considerado que "a tradição em Portugal é que as origens étnicas de cada um não são um fator relevante", o responsável acrescentou: "Acho que é um fator de enriquecimento. Vejo que algumas pessoas interpretam que essa costela oriental ajuda a formatar a minha personalidade. Não sei se é a minha costela oriental ou não, mas seguramente enriquece-me".
Em abril do ano passado, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, comparou o atual e o anterior primeiro-ministro, afirmando que "António Costa era lento, oriental" e Luís Montenegro "não é oriental, mas é lento".
E por falar em Presidente...
Costa escusou-se ainda a falar das eleições presidenciais do próximo ano, referindo ter uma "regra fundamental que é não falar da política interna de nenhum estado-membro" e que a sua "fase de intervenção na vida política interna portuguesa ficou encerrada o ano passado".
E lá fora?
Sobre o multimilionário norte-americano Elon Musk, próximo de Trump e proprietário da rede social X, onde tem atacado governos europeus e apoiado forças contrárias à UE, como a extrema-direita alemã, António Costa salientou que "a independência do poder político relativamente ao poder económico é uma regra fundamental das democracias liberais".
"Só nas oligarquias é que o poder político é dominado pelo poder económico. Nós temos que proteger as democracias liberais e combater as oligarquias", sustentou.
A UE, recordou, tem "um quadro jurídico robusto para regular o novo espaço digital" e é por isso que "algumas dessas grandes companhias tecnológicas não gostam da União Europeia, que ainda recentemente aplicou multas pesadas em matéria de política de concorrência".
Costa referiu que a Comissão Europeia abriu uma investigação à rede X "para saber se está ou não está a cumprir as regras" em matéria de serviços digitais. "Se estiver a cumprir as regras, ótimo, se não estiver as cumprir as regras, as consequências da aplicação da lei terão que existir, porque a lei é igual para todos, e também para as grandes", comentou.
O PIB, a NATO e a eventual subida no investimento
António Costa falou ainda de um tema que tem estado a ser abordado, que diz respeito à possível subida na Defesa, admitindo que os Estados-membros da NATO vão decidir aumentar a meta do investimento em Defesa, atualmente nos 2% do PIB, que o Presidente norte-americano, Donald Trump, quer subir para 5%.
"A média do conjunto das despesa militar nos 23 Estados da União Europeia que são também aliados na NATO já atingiu os 2% e, sobretudo, desde 2022 para cá, nós tivemos um aumento muito significativo", na ordem dos 30%, na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, recordou o ex-primeiro-ministro português.
António Costa disse acreditar que "há um consenso bastante razoável entre os Estados-membros para prosseguir esta trajetória", acrescentando: "Eu anteciparia que seguramente na próxima cimeira da NATO, em junho, se vai fixar uma meta superior aos 2%. Se são os 5%, se são 3%, não sei, é uma decisão que os Estados-membros tomarão no âmbito da NATO".
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