Rutte, novo líder tem missão de unir face a desafios geopolíticos
Mark Rutte, que assumiu hoje a liderança da NATO, chega ao cargo num momento de grandes desafios geopolíticos que, a par da guerra na Ucrânia, também passam pela futura e ainda incerta liderança norte-americana e pela China.
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Mundo Perfil
O antigo primeiro-ministro neerlandês estará no cargo há apenas um mês quando se confrontar com um dos momentos mais desafiantes: uma eleição presidencial nos Estados Unidos da América (EUA) que poderá ser uma etapa decisiva para a aliança ocidental, que tem sido o alicerce da paz e segurança da Europa desde o fim da Guerra Fria.
A perspetiva do regresso do ex-presidente Donald Trump à Casa Branca assombra os corredores da NATO há meses. As declarações de Trump contra os países europeus da Aliança, culpados, na sua opinião, de subfinanciar a área da Defesa, ainda estão muito presentes na mente dos aliados.
A ameaça e o poder (influência) crescente da China será outro dos focos de atenção de Rutte, que se notabilizou na carreira política pela capacidade de criar consensos e que sempre foi um firme apoiante da causa da Ucrânia contra o invasor russo.
Apesar de a NATO estar geograficamente limitada à zona euro-atlântica, os EUA têm apelado repetidamente à Aliança Atlântica para que responda ao poder crescente da China e o apoio de Pequim a Moscovo aumentou ainda mais estes receios.
A relutância de certos países, incluindo a França, em ver a Aliança a afastar-se da sua área de interesse tradicional será um desafio para a liderança de Rutte, segundo os especialistas internacionais.
Natural de Haia, nos Países Baixos, Rutte, 57 anos, sucede na liderança da NATO ao norueguês Jens Stoltenberg, após um longo processo de seleção.
Mark Rutte é filho de Izaäk Rutte, um empresário que trabalhou nas Índias Orientais Holandesas, que abrangia todo o território da Indonésia, durante o período colonial neerlandês.
Na sua adolescência queria ser pianista e para isso ponderou frequentar um conservatório, mas acabou por estudar História na Universidade de Leiden, no sul dos Países Baixos, concluindo a sua formação em 1992.
Durante o período académico, iniciou o contacto com a vida política e fez parte da direção da Organização da Juventude para a Liberdade e Democracia, a juventude partidária do Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VDD).
Concluída a formação superior, Mark Rutte começou a trabalhar na multinacional Unilever, especificamente na subsidiária Calvé. No grupo empresarial ocupou funções de gestão do departamento de recursos humanos.
O percurso político começou realmente em 1993 quando entrou para a direção nacional do VDD. Dez anos mais tarde, em 2003, foi eleito deputado, mas exerceu aquelas funções apenas entre janeiro e maio desse ano.
Entre julho de 2002 e junho de 2004 foi secretário de Estado no Ministério dos Assuntos Sociais e Emprego e nos dois anos seguintes foi secretário de Estado para o Ensino Superior e Ciência, regressando depois à vida parlamentar.
Foi eleito presidente do VDD em 31 de maio de 2006, mas perdeu as eleições legislativas desse ano, não conseguindo ir além dos 14,67% e dos 22 deputados.
Mas quatro anos mais tarde, em 2010, o VDD venceu as eleições legislativas e conquistou 31 lugares no hemiciclo, tornando-se pela primeira vez o partido mais votado.
Mark Rutte cumpriu quatro mandatos consecutivos enquanto primeiro-ministro.
Mas durante o quarto mandato, a credibilidade política de Rutte foi abalada pelo apelidado "Nokiagate", quando foi descoberto que tinha apagado mensagens de um antigo telemóvel Nokia, violando a legislação sobre o arquivo de material que pode ser de interesse público.
Na altura, Mark Rutte alegou que apenas tinha apagado as mensagens por falta de memória do telemóvel, mas a sua posição ficou fragilizada na opinião pública, sendo acusado pela oposição de falhar uma das promessas eleitorais, que dizia respeito ao aumento da credibilidade dos decisores políticos e transparência.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia que Rutte tem sido uma das vozes mais contundentes na condenação da intervenção militar do Kremlin e na necessidade de dar um apoio contínuo à Ucrânia.
No seu currículo não há passagens pelo Ministério da Defesa ou ligações à área da segurança, mas pode-se imputar a Mark Rutte o esforço coletivo da sua liderança governativa para aumentar o investimento de Haia na área da Defesa, em linha com os objetivos traçados pelos Estados-membros da NATO.
A previsão da Aliança Atlântica é de que este ano os Países Baixos atinjam o mínimo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em despesas com Defesa.
No perfil traçado de Rutte, muitas vozes identificam que a sua força está na capacidade negocial e em gerar consensos.
Quatro mandatos consecutivos enquanto primeiro-ministro só foram possíveis com coligações, com partidos em algumas matérias diametralmente opostos.
O último acordo de coligação só caiu em 2023, por divergências sobre a política de migrações no país.
Ao nível da União Europeia (UE), Mark Rutte, que chegou a ser um dos líderes europeus há mais tempo em funções, também demonstrou ter capacidade para gerar consensos. Foi um dos negociadores ao nível do Conselho Europeu para defender as posições liberais: esteve até na conceção da proposta que inclui António Costa para presidente do próximo Conselho Europeu.
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