Na manifestação, que se realizou na capital da região autónoma da Andaluzia, estiveram 15.000 pessoas, segundo os organizadores, enquanto a polícia estimou 5.000 participantes.
O protesto foi convocado por diversas associações agrícolas de Huelva, que consideram estar em causa a sobrevivência da agricultura nesta região, sublinhando que à falta de infraestruturas para gestão da água se soma atualmente uma "seca extrema".
A manifestação foi encabeçada por uma faixa com a frase "Água para o campo, alimentos para o mundo", numa referência à produção agrícola na província de Huelva, que é exportada para outros países europeus.
Os agricultores leram um manifesto em que pedem "as infraestruturas hídricas essenciais para a sobrevivência" da agricultura de Huelva.
Segundo o texto, por causa de infraestruturas de acesso e gestão da água, a agricultura nesta região vive "uma situação limite" e os agricultores pedem que avancem infraestruturas "prometidas há décadas" que permitiriam "enfrentar melhor esta situação de seca estrutural".
A falta de água nesta região espanhola tem levado os agricultores e autoridades locais a levantar a possibilidade de ser pedida água a Portugal ou até a uma revisão da Convenção de Albufeira, o tratado luso-espanhol que regula a gestão dos rios partilhados entre os dois países.
A Andaluzia vive uma "situação extrema" de seca, disse o próprio presidente do governo autonómico, Juan Manuel Moreno (conhecido como Juanma Moreno) no dia 18 de janeiro, quando pediu ajuda europeia e insistiu na transferência de água desde Portugal.
O presidente da Junta da Andaluzia lembrou que a região, além de ser um dos grandes destinos de turismo de Espanha e da Europa no verão, é também a "maior potência agrícola" do país e "produz alimentos para 500 milhões de pessoas" de diversos países.
Segundo afirmou, a seca que vive a Andaluzia já está a ter impacto na economia regional por causa dos efeitos na agricultura, nomeadamente a quebra em um ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) andaluz.
Juanma Moreno pediu a canalização de fundos europeus para a região especificamente para obras relacionadas com infraestruturas de gestão de água e maior envolvimento do Governo central de Espanha, defendendo mais transvases e transferências entre rios espanhóis, mas também que se estudem transvases "entre países", nomeadamente, desde Portugal.
Em dezembro passado, Juanma Moreno chegou mesmo a dizer que o governo regional está a fechar um projeto que vai permitir levar água a partir de Portugal.
A Lusa contactou na altura o Ministério do Ambiente e Ação Climática português sobre este projeto, tendo fonte do gabinete de imprensa respondido que "as relações com Espanha devem seguir o que está definido pela Convenção de Albufeira", texto que regula a gestão dos rios partilhados entre os dois países.
"Não fomos informados pela APA [Agência Portuguesa do Ambiente] de nenhuma proposta por parte de Espanha", acrescentou.
O Governo de Espanha, através do Ministério da Transição Ecológica e Desafio Demográfico, disse, também em dezembro, que por causa da queda do Governo português só voltará a haver reuniões no âmbito da Convenção de Albufeira depois das eleições nacionais e da formação do novo executivo em Portugal, numa resposta a questões da Lusa sobre os contactos entre Madrid e Lisboa relacionados com as reivindicações da Andaluzia.
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